Linchamento em Copacabana: policial assiste e historiador salva ladrão de morte iminente


por marcos romão

Li hoje na Coluna do Ancelmo.

Linchamento em Copa

Um ladrão estava encurralado na Rainha Elizabeth com Nossa Senhora de Copacabana, sábado, 18h30m. Ensanguentado, levava porrada de saradões, mulheres, velhos. De passagem, o historiador Joel Rufino, 74 anos, exibiu a carteira de diretor de comunicação do TJ e impediu o massacre. Um policial civil armado assistia sem se meter.

Nota da Mamapress: É tudo uma questão de olhar e cidadania.

Nosso amigo, o historiador Joel Rufino dos Santos não poderia fazer por menos, ao se ver diante de uma cena de barbárie perpetrada por uma corja de rufiões saradões e senhoras “de classe”, que sob o olhar complacente e incentivador de um policial civil, linchavam um ladrão em plena Princesinha do Mar,  como o bairro de Copabacana é chamada pelos poetas:

Joel Rufino reagiu. Interferiu, se meteu no meio do banho de sangue e salvou a vida do rapaz. Impediu com seu ato de coragem civil, mais uma execução sob tortura em praça pública de uma pessoa humana em nosso país.

Todos nós sabemos os riscos pessoais que corre qualquer cidadão, ao enfrentar uma turba enfurecida desejosa de fazer justiça com as próprias mãos. A maioria das pessoas prefere passar ao largo para não ter aborrecimentos.

A sociedade brasileira, apesar dos avanços econômicos, ficou muito a dever ao aprendizado para a cidadania e a defesa dos direitos humanos.

Mesmo com seus 74 anos de idade e seu corpo franzino, Joel Rufino agiu sem olhar os riscos que corria. É uma exemplo a ser seguido  por todos os jovens que não desejam se omitir diante de cenas de barbárie que testemunhem.

Com um simples gesto, perigoso, mas singelo, meu amigo Joel, trás um alento para todos nós brasileiros e brasileiras, que ainda acreditamos que a dignidade e a integridade de cada cidadão, infrator ou não, é para ser respeitada e protegida.

Vale à pena ser gente brasileira, quando temos amigos com esta coragem carinhosa para com todos que nos cercam. (Marcos Romão, pela Redação).

Saiba um pouco mais sobre o cidadão Joel Rufino dos Santos:

Historiador Joel Rufino dos Santos

Historiador Joel Rufino dos Santos

Filho de pernambucanos, Joel nasceu no ano de 1941 em Cascadura, subúrbio carioca.

Desde criança se encantava com as histórias que a sua avó Maria lhe contava e as passagens da Bíblia que ouvia. Junto com os gibis, que lia escondido de sua mãe, esse foi o tripé da paixão literária do futuro fazedor de histórias. Seu pai também teve um papel nessa formação, presenteando-o com livros que Joel guardava em um caixote.

Ainda jovem, mudou-se com a família para o bairro da Glória e pouco depois entrou para o curso de História da antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a sua carreira de professor, dando aula no cursinho pré-vestibular do grêmio da Faculdade.

Convidado pelo historiador Nelson Werneck Sodré  para ser seu assistente no Instituto Superior de Estudos Brasileiros ( ISEB ), lá conviveu com grandes pensadores, e foi um dos co-autores da História Nova do Brasil, um marco da historiografia brasileira.

Com o golpe de 1964, Joel, por sua militância política, precisou sair do Brasil, asilando-se na Bolívia, depois no Chile. Com o exílio, não só interrompeu a sua vida acadêmica, como também não participou do nascimento do seu primeiro filho, que se chama Nelson em homenagem ao seu mestre e amigo.

Voltando ao Brasil, viveu semi-clandestino, e foi preso 3 vezes. Na última , cumpriu pena no Presídio do Hipódromo ( 1972-1974 ). As cartas, muitas, que escreveu para Nelson, foram, mais tarde, publicadas no livro “Quando eu voltei, tive uma surpresa”, considerado o melhor do ano(2000 ) para jovens leitores.

Com a aprovação da Lei da Anistia, foi re-integrado ao Ministério da Educação e convidado a dar aulas na graduação da Faculdade de Letras e posteriormente na pós-graduação da Escola de Comunicação, UFRJ. Obteve, da Universidade, os títulos de “ Notório Saber e Alta Qualificação em História” e “ Doutor em Comunicação e Cultura”.  Recebeu também,  do Ministério da Cultura, a comenda da Ordem do Rio Branco, por seu trabalho pela cultura brasileira.

Como escritor, Joel é plural. Escreveu inúmeros livros para crianças, jovens e adultos. Ficção e não ficção. Ensaios, artigos , participação em coletâneas. Recebeu, como autor de livros para crianças e jovens, vários prêmios, tendo sido finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil.

Joel  é casado com Teresa Garbayo dos Santos, autora do livro “Conversando com casais grávidos”. Nelson e Juliana são os seus filhos. Eduardo, Raphael, Isabel e Victoria, os netos queridos. (fonte: Página Joel Rufino dos Santos)

Consciência Negra e Polícia Militar: Desafios e Perspectivas.


por marcos romão

Coronel Ibis Pereira e Marcos Romão

Coronel Ibis Pereira e Marcos Romão

Estive lá na Academia de Polícia Militar Dom João VI, nesta sexta feira, 14, do mês da Consciência Negra de 2014.
Palestrei junto com outros ativistas do movimento negro e autoridades, sobre o racismo institucional no Brasil.

Tive a chance de conhecer o atual Comandante da PM Ibis Silva Pereira, um policial formado em filosofia.

A platéia era formada pelos novos oficiais da polícia militar, que irão assumir seus postos em 1° de janeiro de 2015, depois de três anos de formação, na escola em que Coronel Ibis ministrou suas aulas para estes alunos, que ele fez questão de citar, conheceu cada um pessoalmente durante o curso.

O escutei falar para seus alunos, os novos oficiais da PM, que eles haviam aprendido o que era Dignidade Humana que eles terão a obrigação de defender na sua nova profissão de policial. Disse que policial é para defender a dignidade humana e a vida de todos. Que a condição humana da pessoa, continua a existir, mesmo quando ela comete um crime. Que um policial deve ser rigoroso ao prender, mas que sempre respeite a legalidade democrática. Quem não respeita a dignidade humana pode ser tudo, menos um policial.

O Comandante Íbis convidou o Coronel Frederico Caldas, Comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora e todos os 38 comandantes-gerais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para tomarem um “Café Filosófico” com ele, na próxima terça-feira, 18, no QG da corporação no centro da cidade.

É um momento delicado, de rupturas e mudanças nas políticas de segurança do Estado. Coronel Ibis chama seus comandados para conversar informalmente.

Teremos mudanças?

O Globo, através de uma coluna (14.11), já ironiza e chama o encontro de inusitado.

Caso o Coronel Ibis repita para os comandantes, o que falou para seus alunos sobre direitos humanos e dignidade de todos, que a polícia tem que defender. Creio que sim.

Caso se converse e filosofe sobre o silêncio, que a sociedade mantém sobre as mais de 1 milhão de mortes por homicídio que aconteceram no Brasil nestes 26 anos, desde que foi lavrada a Constituição de 1988.

1 milhão de mortes das quais, segundo suas palavras, mais de 70% foram de jovens negros entre 14 e 24 anos.

O Rio de Janeiro poderá ser um exemplo e sinal de que pelo menos a nossa sociedade começou a pensar em estancar o assassinato de nosso futuro, que é a morte de nossos jovens.

Hoje foi um dia em que testemunhei mais de uma centena de jovens oficiais ouvirem que a tarefa principal deles é defenderem a Vida e a Dignidade Humana.

Creio que a sociedade como um todo, só espera isto. Pois tendo dignidade e sendo respeitado o direito à vida que cada um tem, toda a sociedade, inclusive os policiais poderão viver sem medo de seus familiares, amigos e vizinhos.


ceppir militar

Um espanhol teve coragem de escrever: “Porque os brasileiros nao reagem?”


Dragao Santo

Recebi este artigo do meu amigo Spirito Dragão Santo (na foto).

É um artigo candente sobre a situacção atual do Brasil,  sobre corrupção na politica, mas sobretudo sobre a aceitação popular de que tudo é assim mesmo.

Esta corrupção na polítca faz todo mundo aceitar a violência nas cidades.  Faz todo mundo encarar como normal pagar 10 contos prum flanelinha para estacionar na porta de sua casa, pois sabe que pra que ele poder trabalhar, ele vai ter que botar 9 contos na mão de um cana,.

Meu amigo, o dragão santo, me falava para eu não votar na Dilma porque a corrupção iria continuar, outros me falavam para votar na Dilma, porque a direita seria pior.

Votei na Dilma, porque acredito nela, votei na Dilma porque acredito que todo mundo pode nascer, crescer e morrer sem precisar se tornar  corrupto. Por mais que o digam não creio que ser corrupto, seja uma condição nata do ser  brasileiro, este alcunha nacional, que recebemos dos matadores de árvores chamadas Brasil.

Que um jornalista espanhol tenha a coragem de botar o dedo em nossa ferida, não me admira. A garotada espanhola, via facebook, nos provou que finalmente Franco está morto.

Para mim a direita e a esquerda do século XX também já morreram há muito tempo.  O que ainda está vivo é a direita esquerdista em nossos âmagos e corações.

A direita e a esquerda morreram em na suas estruturas, perderam seus discursos, mas a direita “no fundo do coração de nós é o que nos trapalha”. Já poderia ter dito William Reich ou minha vó!

Marcos Romão

A seguir o artigo de Juan Ariel que xupei do Globo.

Juan Arias, O Globo

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro – e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e que “ninguém vai para a prisão”, não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público?

É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo “descontrole” atual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a se desfazer de uma certa “herança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado.

E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?

O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.

 

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos.

E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.

Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado – onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada – os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que – também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.

Juan Arias é correspondente do El Pais no Brasil