Para Brasília, só com passaporte


A proposta inconstitucional da redução da maioridade penal vai mostrar quem é mais corrupto: se o povo ou o Congresso

No filme Branco Sai, Preto Fica, em cartaz nos cinemas do Brasil, para alcançar Brasília é preciso passaporte. O elemento de ficção aponta a brutal realidade do apartheid entre cidades-satélites como Ceilândia, onde se passa a história, e o centro do poder, onde a vida de todos os outros é decidida. Aponta para um apartheid entre Brasília e o Brasil. Ao pensar no Congresso Nacional, é como a maioria dos brasileiros se sente: apartada. O Congresso mal iniciou o atual mandato e tem hoje uma das piores avaliações desde a redemocratização do Brasil: segundo o Datafolha, só 9% considera sua atuação ótima ou boa, 50% avalia como ruim ou péssima. É como se houvesse uma cisão entre os representantes do povo e o povo que o elegeu. É como se um não tivesse nada a ver com o outro, como se ninguém soubesse de quem foram os votos que colocaram aqueles caras na Câmara e no Senado, fazendo deles deputados e senadores, é como se no dia da eleição tivéssemos sido clonados por alienígenas que elegeram o Congresso que aí está. É como se a alma corrompida do Brasil estivesse toda lá. E, aqui, o que se chama de povo brasileiro não se reconhecesse nem na corrupção nem no oportunismo nem no cinismo.

Há, porém, uma chance desse sentimento de cisão desaparecer, e o Brasil testemunhar pelo menos um grande momento de comunhão entre o Congresso e o povo. Alma corrompida com alma corrompida. Cinismo com cinismo. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara pode decidir, nesta semana, pela admissibilidade da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 171/93. Ela reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Se isso acontecer, a proposta, que estava engavetada desde o início dos anos 90, terá vencido uma barreira importante e seguirá seu caminho na Câmara e no Senado. Diante do Congresso mais conservador desde a redemocratização, com o crescimento da “bancada da bala”, formada por parlamentares ligados às forças de repressão, há uma possibilidade considerável de que seja aprovada. E então o parlamento e o povo baterão com um só coração. Podre, mas uníssono.

A redução da maioridade penal como medida para diminuir a impunidade e aumentar a segurança é uma fantasia fabricada para encobrir a verdadeira violência. Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), dos 21 milhões de adolescentes brasileiros, apenas 0,013% cometeu atos contra a vida. Mas são eles que estão sendo assassinados sistematicamente: o Brasil é o segundo país no mundo em número absoluto de homicídios de adolescentes, atrás apenas da Nigéria. Hoje, os homicídios já representam 36,5% das causas de morte por fatores externos de adolescentes no país, enquanto para a população total corresponde a 4,8%. Mais de 33 mil brasileiros de 12 a 18 anos foram assassinados entre 2006 e 2012. Se as condições atuais prevalecerem, afirma o Unicef, até 2019 outros 42 mil serão assassinados no Brasil.

Quem está violando quem? Quem não está protegendo quem? Quem deve ser responsabilizado por não garantir o direito de viver à parte das crianças e dos adolescentes?

Há uma verdade mais dura sobre nós: a da nossa alma corrompida

Ainda assim, mais de 90% dos brasileiros, segundo pesquisa realizada em 2013 pela Confederação Nacional dos Transportes, aprovam que se coloque adolescentes em prisões que violam as leis e os direitos humanos mais básicos, no quarto sistema carcerário mais populoso do mundo, em flagrante colapso e incompetente na garantia de condições para que uma pessoa construa um outro destino que não o do crime. Se aprovada essa violação da Constituição, a segurança não vai aumentar: o que vai aumentar é a violência. E a capacidade da sociedade brasileira de produzir crime disfarçado de legalidade.

Parte da sensação de que há um exército de crianças e adolescentes perversos, prontos para atacar “os cidadãos de bem”, costuma ser atribuída à enorme repercussão de crimes macabros com a participação de menores de idade. Aquilo que é exceção, ao ser amplificado como se fosse a regra, regra se torna. As estatísticas desmentem com clareza esse imaginário, mas o sentimento, reforçado por parte da mídia, seria mais forte do que a razão. Viraria então uma crença sobre a realidade, manipulada por todos aqueles que dela se beneficiam para justificar seus lucros, seus empregos e sua própria violência, esta sim amparada em números bem eloquentes.

Essa é uma parte da verdade, mas não toda. É a parte da verdade benigna para a sociedade brasileira, que só apoiaria a redução da maioridade penal por ser iludida e manipulada pela mídia ou pelos deputados ou pela indústria da segurança. Manipulada por alguém, um outro esperto e diabólico, que a levaria a conclusões erradas para obter benefícios pessoais ou para corporações públicas e privadas. Seria um alento se essa fosse a melhor explicação, porque bastaria o esclarecimento e o tratamento correto dos fatos, para que a sociedade chegasse a uma análise coerente da realidade e à óbvia conclusão de que a redução da maioridade penal só serviria para produzir mais crime contra os mesmos de sempre.

Os mesmos que clamam pela redução da maioridade penal convivem sem espanto com o genocídio da juventude negra e pobre das periferias

Há, porém, uma verdade mais dura sobre nós. É a da nossa alma apodrecida por um tipo de corrupção muito mais brutal do que a revelada pela Operação Lava Jato, com consequências mais terríveis do que aquela apontada com tanta veemência nas ruas. A cada ano, uma parte da juventude brasileira, menor e maior de idade, é massacrada. E a mesma maioria que brada pela redução da maioridade penal não se indigna. Sequer se importa. No Brasil, sete jovens de 15 a 29 anos são mortos a cada duas horas, 82 por dia, 30 mil por ano. Esses mortos têm cor: 77% são negros. Enquanto o assassinato de jovens brancos diminui, o dos jovens negros aumenta,como mostra o Mapa da Violência de 2014.

Há uma parcela crescente da juventude negra, pobre e moradora das periferias que morre antes de chegar à vida adulta. Num país em que a expectativa de vida alcançou os 74,9 anos, essa parcela morre com idade semelhante à de um escravo no século 19. E isso não causa espanto. Ninguém vai para as ruas denunciar esse genocídio, clamar para que ele acabe. São poucos os que se indignam e menos ainda os que tentam impedir esse massacre cotidiano.

Como é que vivemos enquanto eles morrem? Como é que dormimos com os gritos de suas mães? Possivelmente porque naturalizamos a sua morte, o que significa compreender o incompreensível, que dentro de nós acreditamos que o assassinato anual de milhares de jovens negros e pobres é normal. E, se essa é a realidade, a de que somos ainda piores do que os senhores de escravos, o que essa verdade faz de nós?

Acontece a cada dia. E a maioria das mortes nem merece uma menção na imprensa. Quando eu era repórter de polícia e ligava para as delegacias perguntando o que tinha acontecido nas madrugadas, sempre tinha acontecido, mas era visto como um desacontecido. “Não aconteceu nada”, era a invariável resposta dos policiais de plantão. Tinham morrido vários, mas eram da cota (sim, as cotas sempre existiram) dos que podem morrer. Estas seriam as mortes não investigadas, as mortes que não seriam notícia. Crime que merecia investigação e cobertura, já era bem entendido, era de branco e, de preferência, rico, ou pelo menos classe média. Dizia-se, no passado, que a melhor escola do jornalismo era a editoria de polícia. Era, de fato, a melhor escola para compreender em profundidade as engrenagens que movem a sociedade brasileira, porque já na primeira aula se aprendia que a morte de uns é notícia, a de outros é estatística.

Assim como os senhores de escravos internalizaram que os negros eram coisas, ou, conforme o momento histórico, uma categoria inferior na hierarquia das gentes, mais de um século depois da abolição oficial da escravatura, a sociedade brasileira naturalizou que existe uma parte da juventude negra que pode ser morta ao redor dos 20 anos sem que ninguém se espante. Se de fato fôssemos pessoas decentes, não era isso o que deveríamos estar gritando em desespero nas ruas? Mas nos corrompemos, ou nunca conseguimos deixar a condição de corruptos de alma.

Em vez disso, clama-se pela redução da maioridade penal, para colocar aqueles que a sociedade não protege cada vez mais cedo em prisões onde todos sabem o quanto é corriqueira a rotina de torturas e estupros, sem contar a superlotação que faz com que em muitas celas seja preciso alternar os que dormem com os que ficam acordados, porque não há espaço para todos ficarem deitados. Como se já não soubéssemos que as unidades que internam adolescentes infratores, contrariando a lei, são na prática prisões, infernos em miniatura, com todo o tipo de violações dos direitos mais básicos. Alguém, nos dias de hoje, pode alegar desconhecer que é assim? E então, como é possível conviver com isso?

O debate na Comissão de Constituição e Justiça desceu a níveis de cloaca

Em 24 de março, no debate sobre a redução da maioridade penal na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o deputado “delegado” Éder Mauro (PSD-PA) afirmou, conforme cobertura do portal jurídico Jota no Twitter: “Não podemos aceitar que, assim como o Estado Islâmico, que mata sob a proteção da religião, os menores infratores, bandidos infratores, menores desse país, matam sob a proteção do ECA”. Como uma asneira desse porte não vira escândalo? Comparar a lei que ampara as crianças e os adolescentes com as (des)razões alegada pelo Estado Islâmico para decapitar e queimar pessoas é uma afronta à inteligência, mas a discussão na Câmara sobre um tema tão crucial desce a esse nível de cloaca. A sessão foi encerrada depois de um bate-boca em que foi preciso separar outros dois deputados. E, assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma das leis mais admiradas e copiadas no mundo inteiro, mas que infelizmente até hoje não foi totalmente implementada, é colocada na mesma frase que o Estado Islâmico. Colegas me sugeriram que não deveria dar espaço a uma declaração e a um deputado desse calibre, mas ele está lá, eleito, bem pago e vociferando bobagens perigosas no parlamento do país. É preciso levar muito a sério a estupidez com poder, uma lição que já deveríamos ter aprendido.

Os manifestantes de 15 de março, que protestaram contra a corrupção, tiraram selfies com uma das polícias que mais mata no mundo

É verdade que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. É o que descobriu Alan de Souza Lima, de 15 anos, em fevereiro, na favela de Palmeirinha, em Honório Gurgel, subúrbio do Rio. Morreu com o celular na mão, e só por isso deixou de ser apenas estatística para virar narrativa, com nome e sobrenome e uma história nos jornais. Alan estava conversando com mais dois amigos e gravava um vídeo no celular. Acabou documentando a sua agonia, depois de ser baleado pela polícia. Como de hábito, a corporação alegou o famoso “confronto com a polícia”, o argumento padrão com que a PM costuma justificar sua assombrosa letalidade, uma das campeãs do mundo. E de imediato acusaram os três de estarem armados e de resistirem à prisão. Mas Alan morria e gravava. A gravação, que foi para a internet, mostrava que não resistiram. Chauan Jambre Cezário, de 19 anos, foi baleado no peito. Ele vende chá mate na praia e sobreviveu para dizer que nunca usou uma arma. A culpa dos garotos era a de viver numa favela, lugar onde a lei não escrita, mas vigente, autoriza a PM a matar. No vídeo há uma frase que deveria estar ecoando sem parar na nossa cabeça. Quando um dos policiais pergunta aos garotos por que estavam correndo, um deles responde:

– A gente tava brincando, senhor.

A frase deveria ficar ecoando na nossa cabeça até que tivéssemos o respeito próprio de nos levantarmos contra o genocídio cotidiano de parte da juventude do Brasil.

A gente tava brincando, senhor. E então o senhor atirou. Feriu. Matou.

Aqueles que foram para as ruas bradar contra a corrupção tiraramselfies com uma das polícias que mais mata no mundo. Só a Polícia Militar do Estado de São Paulo, governado há mais de 20 anos pelo PSDB, matou, em 2014, uma pessoa a cada dez horas. Se os manifestantes que tiraram selfies com a PM no protesto de 15 de março na Avenida Paulista admiram a corporação pela eficiência, precisamos compreender o que esses brasileiros entendem por corrupção, no sentido mais profundo do conceito.

Numa pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), intitulada “Desigualdade Racial e Segurança Pública em São Paulo”, as pesquisadores Jacqueline Sinhoretto, Giane Silvestre e Maria Carolina Schlittler chegaram a conclusões estarrecedoras. Pelo menos 61% das vítimas mortas por policiais são negras. E mais da metade tem menos de 24 anos. Já 79% dos policiais que mataram são brancos. O fator racial é determinante: as ações policiais vitimam três vezes mais negros do que brancos. As mortes são naturalizadas: apenas 1,6% dos autores foram indiciados como responsáveis pelos crimes. É a Polícia Militar a responsável por 95% da letalidade policial no estado de São Paulo.

Em fevereiro, a PM de Salvador executou 12 jovens no bairro de Cabula. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Onze. Doze.

O que o governador da Bahia disse, depois dos corpos tombados no chão pela polícia que comanda? A comparação jamais deve ser esquecida. Depois de parabenizar a PM, Rui Costa (PT-BA) comparou a posição do policial diante de suspeitos a de “um artilheiro em frente ao gol, que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol”. Rui Costa foi aplaudidíssimo.

O futebol continua dizendo muito sobre o Brasil: botar uma bala no corpo de um negro é o mesmo que fazer gol, diz o governador baiano

É isso. Enfiar uma bala no corpo de jovens negros e pobres das periferias é fazer como a Alemanha no icônico 7X1 contra o Brasil: “botar a bola dentro do gol”. E isso dito não nos tempos de Antônio Carlos Magalhães, o poderoso coronel da Bahia, mas pelo governador do Partido dos Trabalhadores, supostamente de esquerda. O futebol continua dizendo muito sobre o Brasil.

É por isso que, no filme Branco Sai, Preto Fica, quem é negro e pobre precisa de passaporte para entrar em Brasília. O título do filme é a frase berrada pela polícia ao invadir um baile no “Quarentão”, na Ceilândia, na noite de 5 de março de 1986, onde jovens dançavam, depois de passar a semana ensaiando os passos. A PM entrou gritando: “Puta de um lado, Veado do outro. Branco sai, Preto fica”. Quase três décadas depois, Marquim do Tropa e Shockito são atores interpretando em grande parte o seu próprio papel. Marquim para sempre numa cadeira de rodas pelo tiro que levou, Shockito com uma perna mecânica depois de ter perdido a sua pisoteada por um cavalo da polícia. Resultado do Branco Sai, Preto Fica daquela noite. Sem passaporte para fora do massacre porque, na condição de pretos, eles ficaram.

Branco Sai, Preto Fica tem sido descrito como uma mistura especialmente brilhante entre documentário e ficção científica, com nuances de humor. Ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Brasília de 2014 e chegou há pouco aos cinemas do país. Para mim, o filme de Adirley Queirós se iguala, na potência do que diz sobre o Brasil e na forma criativa como diz, às dimensões do já mítico Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. São filmes que falam de Brasis diferentes, em momentos históricos diferentes, e, também por isso, falam do mesmo Brasil.

É do futuro, do ano de 2073, que vem outro personagem, Dimas Cravalanças, cuja máquina do tempo é um contêiner. A Ceilândia do presente lembra, sem necessidade de nenhum esforço de produção, um cenário pós-apocalíptico. Cravalanças tem a missão de encontrar provas para uma ação contra o Estado pelo assassinato da população negra e pobre das periferias. A voz que o orienta do futuro alerta: “Sem provas, não há passado”.

A Comissão da Verdade da Democracia vai investigar os crimes cometidos pelo Estado

Só na ficção para responsabilizar o Estado pelo genocídio cotidiano da juventude pobre e negra? Quase sempre, sim. Mas algo se move na realidade, com pouco apoio da maioria da sociedade e escassa atenção da mídia. No fim de fevereiro, foi instalada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a Comissão da Verdade da Democracia “Mães de Maio”. Sua criação é uma enormidade na história do Brasil, um marco. Depois de apurar os crimes da ditadura, uma comissão para investigar os crimes praticados pelo Estado na democracia. Em busca de provas no passado recente para que tenhamos um futuro.

“Mães de Maio”, que empresta o nome à comissão, é um grupo de mulheres que perderam seus filhos entre 12 e 20 de maio de 2006, quando uma onda de violência tomou São Paulo a partir de confrontos da polícia com o crime organizado. Foram 493 mortes neste período, pelo menos 291 delas ligadas ao que se convencionou chamar de “crimes de maio”. Pelo menos quatro pessoas continuam desaparecidas. Edson Rogério, 29 anos, filho de Debora Maria da Silva, líder do “Mães de Maio”, foi executado com cinco tiros. A suspeita é de que os autores do assassinato sejam policiais. Segundo Debora, seu filho gritava antes de ser morto: “Sou trabalhador!”. Seu assassinato segue impune. Edson morreu na mesma rua que, como gari, havia varrido pela manhã.

Nem as centenas de assassinatos de maio de 2006, nem as mortes aqui relatadas ocorridas há pouco, exemplos do genocídio cotidiano, moveram sequer um milésimo da revolta provocada por crimes com a participação de menores em que foram assassinados brancos de classe média ou alta. Seria demais esperar que um assassinato fosse um assassinato, independentemente da cor e da classe social? Menos que isso é aceitar que a vida de uns vale mais do que a de outros, e que essa hierarquia é dada pela cor da pele e pela classe social. Se é assim que você compreende o valor de uma pessoa, diga o que você é diante do espelho. Não para o mundo inteiro, para você mesmo já basta.

Sim, esse Congresso comandado por dois políticos investigados por corrupção é, ressalvando as exceções, que também existem, uma vergonha. Mas minha esperança é que, no que se refere à proposta inconstitucional da redução da maioridade penal, o Congresso seja melhor do que o povo brasileiro. Tenha grandeza histórica pelo menos uma vez e diga não a nossas almas tão corrompidas.

Enquanto isso se desenrola em Brasília, vá ver Branco Sai, Preto Fica. Ao sair do cinema, você saberá que um jovem, quase certamente negro, morreu assassinado no Brasil enquanto você estava lá.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes – o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site:descontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:@brumelianebrum

Audiência pública discutirá acesso da juventude negra à Justiça


martelo da justiçaDados do Ministério da Saúde mostram que 76,6% dos jovens vítimas de homicídio em 2010 são negros. Enquanto o número de brancos assassinados caiu 25,5% de 2002 a 2010, o número de assassinatos de jovens negros aumentou 29,8% no mesmo período. Para discutir a alta vitimização dessa parcela da população e ouvir a sociedade sobre as barreiras impostas aos jovens negros para o acesso à Justiça, será realizada, no dia 17 de setembro, a audiência pública Acesso à Justiça para a Juventude Negra em Situação de Violência, no auditório do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Interessados em participar já podem fazer a pré-inscrição no portal do CNJ, que organiza o evento junto com outros órgãos governamentais e entidades representativas de classe. A participação na audiência, no entanto, só está garantida após recebimento de e-mail enviado pela organização, confirmando a inscrição. Clique aqui para fazer a pré-inscrição.

A audiência é uma das ações do acordo para redução de barreiras de acesso à Justiça para a juventude negra em situação de risco, assinado pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça (MJ), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR), Secretaria Geral da Presidência da República (SG/PR), Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e Conselho Federal da OAB (CFOAB).

O acordo tem como eixos o reconhecimento e a defesa do direito à vida da Juventude Negra, a afirmação dos jovens negros como sujeitos de direitos e o enfrentamento ao racismo e a promoção de uma cultura não discriminatória do sistema de Justiça, entre outros.

Cada um dos signatários tem uma competência estabelecida. Ao CNJ cabe garantir o respeito aos direitos dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, com priorização de aplicação de medidas não restritivas de liberdade. No acordo, o Conselho também assumiu o compromisso de promover seminários de sensibilização para o fomento de uma cultura não discriminatória no sistema de Justiça, visando à desconstrução de estigmas em relação à juventude negra e à garantia da presunção de inocência desses jovens.

O CNJ também deve promover, articular e apoiar a inclusão do combate ao racismo institucional no curso de formação dos magistrados, além de fomentar a realização de censo periódico para traçar um diagnóstico do perfil racial da instituição, a partir do qual desenvolverá ações concretas voltadas ao público interno e externo.

Recomendar a inclusão do tema no Planejamento Estratégico do Judiciário e expedir ato normativo visando à implementação de políticas de ação afirmativa para ingresso de jovens negros nos quadros de membros, servidores e estagiários, do Judiciário também foram responsabilidades assumidas pelo CNJ no acordo, cujo gestor é o conselheiro Guilherme Calmon.

Elizângela Araújo
Agência CNJ de Notíciasracismo insuportável

50 mil foram às ruas do Brasil na II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro. Reaja ou será morta. Reaja ou será morto!


por marcos romão

Designer> Luiz Carlos Gá

Designer: Luiz Carlos Gá

Com a presença impressionante,  em sua maioria,de jovens mulheres negras, mais de 50 mil pessoas foram para rua protestar contra o genocídio de juventude negra brasileira no último dia 22 de agosto.

Milhares de pessoas protestaram contra as mortes diárias de nossos jovens em Salvador – BA, Rio de Janeiro – RJ, São Paulo – SP, Porto Alegre – RS, Vitória – ES, Belo Horizonte – MG, João Pessoa – PB, Brasília – DF, Manaus – AM, Fortaleza – CE, Vitória- ES, Porto Velho – RO, Maceió – Al, Rio Branco – AC e outras capitais além de várias cidades pelo país afora, em Marcha convocada por várias organizações negras e contra o racismo, que desatreladas das conveniências institucionais, partidárias, religiosas ou econômicas, resolveram dar um basta aos assassinatos oriundos de uma guerra genocida contra o jovem negro, comandada pelos que controlam os poderes na sociedade brasileira. 

Espírito Santo-foto andré alves

Espírito Santo-foto andré alves

 

Não houve gás de pimenta, nem bombas de gás lacrimogêneo, nem balas de borracha ou de aço, assim como não houve a presença da grande imprensa, ocupada com o que acontece em Ferguson, EUA. Para o racismo no Brasil, os intelectuais brancos e a grande imprensa, especializados em racismo lá fora, racismo no Brasil não existe. Para eles racismo só acontece quando alguém é maltratado em alguma loja. A verdadeira epidemia que se transformou a morte de jovens negros, só merece destaque nas páginas policiais, que incentivam estes assassinatos.

Dispensamos a violência policial em nossas manifestações, pois desde 1978 que nossa dignidade cidadã de negras e negros vence o ódio racista quando saímos às ruas.

Rejeitamos a violência em nossas manifestações porque vivemos debaixo da violência. A cada mudança na política de segurança nos estados do Brasil, sabemos que vai sobrar para nós, negras e negros. Nós sabemos que somos o alvo escolhido como inimigos internos da política de Segurança Nacional.

Não precisamos sair às ruas com pedras nos bolsos, pois sabemos que nós somos a pedra, nós somos a arma. Sabemos que nós somos a prova do crime que é a nossa existência. Mostramos as armas de nossa dignidade quando saímos nas ruas. Isto não cabe na pauta dos grandes meios de comunicação, simplesmente não encaixa no estereótipo do negro que as academias de comunicadores despejam todos os dias nas mentes de nosso povo brasileiro.

Saímos nas ruas, a juventude negra dos 8 aos 80, saiu nas ruas. Cada dia a mais que uma negra ou um negro vive, nós podemos contabilizar como uma vitória de persistência coletiva e aprendizado de sobrevivência em uma guerra  contínua contra nossa existência nesta República chamada Brasil, o paraíso dos racistas de todo o mundo!

Rede Radio Mamaterra, e o SOS Racismo Brasil, receberam e continuam recebendo fotos e depoimentos de todo o país. Fizemos um arquivo inicial para que este dia 22 de agosto de 2014 fique em nossas memórias:

“20 de agosto

Bom dia,

Dia 22 é um dia de irmos para ruas, tomar as ruas nesses dia é de fundamental importância para dizemos para essa sociedade – NÓS NÃO IREMOS MORRER CALADXS -, e é nesse espirito de inquietude e descontentamentos com o projeto de nação que tá posto em todas esferas dessa sociedade que iremos despidxs de todos os rótulos políticos partidarizados para ruas do Brasil. A Campanha Reaja ou será Mortx protagoniza numa conjuntura fadada ao fracasso o ato mais revolucionários e emancipatório ao longo desses década. E é imbuindo dessa responsabilidade que estaremos na sexta feira dia 22 ás 15h Marchando.

Nem um passo atrás! Reaja ou será Mortxs!
E viva o povo preto

Hamilton Borges Walê, estudante de Direito e ativista conhecido na Bahia e no Brasil, Walê tem sido alvo de inúmeras perseguições pelas denúncias da violência e de mortes de jovens negros – alguns dos quais seus amigos – pela Polícia baiana.

O ativista acrescenta que o 22 de agosto foi escolhido por causa de vários eventos relacionados à luta antirracista, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, entre os quais cita a morte de Jonatas Jackson, dos Black Panters (o Partido dos Panteras Negras, dos EUA), morto num 21 de agosto, “o martírio dos heróis da Revolta dos Búzios” (Movimento abolicionista e de independência do Brasil que eclodiu em 1.798, em Salvador, também chamada de Conjuração Baiana), e a primeira greve de escravos nos Estados Unidos que aconteceu no dia 22 de agosto de 1.843.

A Marcha nas ruas:

Confira a seguir, a entrevista concedida pelo ativista ao jornalista Dojival Vieira, da Afropress:

Afropress – Qual é o objetivo da Marcha?

Hamilton Borges Walê – Tomarmos nossa voz de volta, articular internacionalmente uma frente de luta contra o racismo, o neocolonialismo , contra o genocídio. Uma luta pan-africanista, sem partidos ou governos levando os negros e negras a agiram como povo dentro dos territórios coloniais que nos submete e mata.

Afropress – Quais os Estados que estarão na Marcha?

Walê – Temos comitês montados no Rio, S. Paulo, Manaus (Amazonas), Minas Gerais, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Espírito Santo, Brasília, Rio Grande do Sul, e Alagoas (Maceió). Há outros Estados que se incorporaram depois mas que também estarão na Marcha.

Afropress – Qual a repercussão internacional que a Marcha terá?

Walê – A Marcha já repercutiu em países da África, Europa e Estados Unidos. Em mais de 19 países da Europa, três da África, além dos Estados Unidos e também na América Latina.

Afropress – Qual a previsão de participação? Quantas pessoas são esperadas nos vários Estados?

Walê – Achamos que um milhão de pessoas tomam as ruas do Brasil, parando o país contra o genocídio. No mundo, na porta das embaixadas brasileiras, teremos grande participação, principalmente na Europa, com o grande trabalho feito pela FOJA, da Espanha, que coordena a luta por lá.

Afropress – Haverá a entrega de algum documento com reivindicações e ou demandas ao Governo brasileiro?

Walê – Essa Marcha não é reivindicativa. Ninguém está autorizado ou autorizada a falar com presidente, governador ou prefeito. Temos mais de 30 anos de reivindicação. Estamos dando um novo passo, de luta autônoma, sem nos rebaixarmos as agendas que não são nossas. A Marcha é para nos prepararmos para outros momentos de luta. Sem vendermos nossa dor e desgraça para os políticos de rapina que a cada dois anos negociam nossa miséria por cargos e puxadinhos como bem fala o próprio editor do Afropress.

Afropress – Por que razão foi escolhido o dia 22 de agosto?

Walê – Os “Agostos Negros”, os vários eventos que esse mês carrega. A morte de Jonatas Jackson, dos Black Panters, que morreu num 21 de agosto. No dia 22 de agosto de 1.843 também aconteceu a primeira greve de escravos nos Estados Unidos. O martírio dos heróis da Revolta dos Búzios, enfim vários acontecimentos importantes, e o grande Orixá Omulu que conduz os mortos, e os mortos são nossos guias. Nós os honramos com nossa luta.

Afropress – O que pode significar essa II Marcha para os negros brasileiros?

Walê – Essa Marcha é para nós negros e negras redefinirmos um outro conceito de Nação que inclua, mas que os brancos que dominam tudo e se beneficiam de nossas mortes. É sem partidos e sem Governos, com negros e negras fazendo por si. Uma Marcha Internacional que liga as lutas.

Fotos:
Espírito Santo

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Rio de Janeiro:

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Paraná

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O que tem anestesiado a revolução negra contra o privilégio branco no acesso às oportunidades nesse país?


por Reginaldo Bispo

Resposta dada em um diálogo no Facebook sobre porque o negro no Brasil não consegue mudanças.

mãos pretasO que tem anestesiado a revolução negra contra o privilégio branco no acesso às oportunidades nesse país?

Prezado Danilo, irmãs e irmãos, como eu gostaria de dizer que se trata de uma resposta simples, e que depende apenas de mudança na correlação de forças. Mas são tantas as respostas e as palavras.

Paternalismo e hipocrisia são duas delas, a primeira desarma e a segunda aliena. Podia citar também que vivemos uma crise, não de direção, mas de compromisso e responsabilidade, que nos mantém ora na absoluta inércia, ora conformados e satisfeitos com a falsa integração, que põe em evidencia meia duzia de pretinhos que se propõe cumprir o papel de aliados que o opressor lhes reservous, para enganação nosso povo.

Poderíamos responder também, que o papel do sistema imperialista é muito bem estruturado, usando a religião, a educação, as leis e a mídia para enganar e alienar o povo, que a vida é assim mesmo, que as regras nunca vão mudar.

Entretanto, me apego a duas questões finais:

1. Os partidos são a divisão do povo em partes e pedaços de projeto, de programa, de ideologia, de povo, facilitando o controle pelo status quo, dividindo e segregando o povo negro horizontalmente, e exercendo a direção da base ao topo da hierarquia verticalmente.

2. As nossa pratica de especializações e exclusividade em constituir frentes mono pontuais com:

A. O MN das Cotas,

B. O movimento da Luta Contra o racismo religioso.

C. O movimento da Saúde da população negra.

D. O movimento de Quilombolas.

E. O movimento da lei 10.639.

F. O movimento da Mulher Negra.

G. O movimento dos jovens negros.

H. O movemnto das feministas negras jovens.

I. O movemnto da Luta Contra o Genocídio.

J. O movimento da  Cultura,

K. O movmento da educação, assim como outras, cada um em pista própria, competindo como se fossem concorrentes, ao invés de identificar que a luta é a mesma, complementar, facilitamos sdssim a vida do opressor, dificultando a nossa, uma vez que e que o inimigo é o mesmo.


Sua pergunta – O QUE TEM ANESTESIADO A REVOLUÇÃO NEGRA, CONTRA O PRIVILÉGIO BRANCO NO ACESSO AS OPORTUNIDADES NESSE PAIS? – Continuará sem resposta, enquanto não nos posicionarmos seriamente sobre aquelas questões. Grande Abraço. Irmão. Reginaldo Bispo-MNU de Lutas.

Presidenta da Unegro sofre abuso da Polícia Militar


por Dennis de Oliveira

fonte: Portal Forum

Dennis de Oliveira

Dennis de Oliveira

O episódio abaixo, relatado por uma dirigente do movimento negro de São Paulo, é uma demonstração de que a democracia e o Estado de direito ainda não chegaram para negros, negras e moradores de periferia. Prevalece ainda uma ação policial típica de ditadura militar, com abordagens que desrespeitam os direitos humanos e seletivas pela cor da pele. Pior ainda que as reações destes agentes quando os cidadãos simplesmente exigem o cumprimento dos seus direitos demonstram não um “despreparo” mas sim uma concepção autoritária e violenta de trato com as pessoas, inclusive mulheres.

Mais preocupante ainda é o fato de que esta prática policial que tem sido a principal responsável pelo genocídio da juventude negra, expresso nos assassinatos de Cláudias e desaparecimento de Amarildos nas periferias afora do Brasil, recebe apoio de parcela significativa da sociedade. Era o caso da sociedade civil se mobilizar contra esta atitude que em nada combina com a democracia. Afinal democracia não se resume apenas e tão somente a ter eleições de tempos em tempos, coisa que acontecia também na ditadura militar, e nem tampouco apenas liberdade de expressão para os donos dos grandes meios de comunicação, mas respeito aos direitos de todos os cidadãos, independente da sua origem, classe e etnia. A tolerância e até mesmo o apoio a este tipo de procedimento tem garantido eleição de parlamentares que formam “bancadas da bala” ou governadores e prefeitos que ainda insistem na proposta de tratar o problema da segurança com mais violência. Por isto, em nome da defesa da democracia plena e dos direitos humanos, repudiamos veemente esta ação da Polícia Militar bem como exigimos pronta apuração e punição dos responsáveis.

Hoje pela manhã pude sentir o racismo de sua forma mais letal, letal porque quando não exterminam o jovem negro, exterminam sua auto estima com uma abordagem violenta, preconceituosa, racista mesmo. A primeira pergunta que fazem ao jovem NEGRO com a ARMA EM PUNHO e se ele tem passagem pela policia. Cenas como essa acontecem a todo momento protagonizada pela famigerada Policia Militar do Estado de São Paulo que com a justificativa de estar investigando denuncia de roubo de carro nos pararam dessa forma. E foi assim que aconteceu hoje pela manhã qdo fomos abordados por policias militares que ao ver o carro passar dirigido por um jovem negro, e portanto um suspeito de estar num carro roubado, não perceberam a minha presença e quando perceberam pra não perder a oportunidade de exercer o seu poder de policia solicitou minha saída do carro enquanto abordavam o Keniuata da forma que citei, passado o impacto daquela abordagem truculenta, peguei o celular pra anotar os dados policiais e da viatura, quanto o sargento indignado me disse de forma grosseira, qual era o motivo de estar anotando os dados, respondi que co mo cidadã tenho o direito de anotar dados quando sou abordada, inconformado começou a me pressionar e como eu respondia que tinha meu direito como cidadã de anotar, ficou mais transtornado e agiu como se estivesse interrogando uma pessoa acusada de roubo, gritava que não era bandido que estava fazendo o trabalho dele e que nos estavamos influenciados pela mídia que queria manchar a imagem da policia etc, é que iria fazer o papel dele de policia iria registrar também a minha abordagem no Copon, ordenou que eu entregasse meu documento para consulta e entreguei a eles e decidi não mais falar nada pque o registro da ocorrência no Copon, daria maior veracidade ao que pretendo fazer com essa ação que sofremos. Eles continuaram nos constrangendo dizendo que iriam fazer o papel deles de policia e revistaram o carro de ponta a ponta, chegaram ao absurdo de pegar um pano e usar a gasolina do recipiente da partida do carro para limpar e anotar o chassi do carro, quase no final dessa tortura se identificaram dizendo que eu não precisava ter me dado ao trabalho de fotografar, devolveram os documentos reafirmaram que não tinham, agido de forma desrespeitosa conosco e que podemos contar sempre com o trabalho da POLICIA MILITAR. Honestamente a indignação e revolta e pouco pra descrever o sinto ao ser confrontada com a realidade dos jovens negros e mães negras que são humilhados e tratados com racismo por essa corporação, pra eles o fato de sermos negros (as) justifica o tipo de abordagem que fazem, legitimados pelo RACISMO INSTITUCIONAL. Eu reafirmo meu compromisso pela luta, CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA E PELA DESMILITARIZAÇÃO DA POLICIA E DO ESTADO. – Rosa Maria Anacleto, presidenta da União de Negros pela Igualdade de São Paulo (Unegro/SP)

Nota da Mamapress: Percebemos com certo alívio que mais e mais negros em posições nas Organizações Negras, colocam publicamente os fatos que relatam a ditadura real debaixo da qual vive a população negra brasileira, principalmente o genocído da juventude negra.

Os jovens negros não conseguem mais entender porque se repetem todos os dias, publicações de estatísticas  sobre o massacre genocida dos jovens negros pelo país e nada acontece, primeiro para estancar o sangramento e depois para mudar de vez, este tratamento de inimigos de guerra que recebemos todos os dias nas ruas brasileiras. Os jovens negros já falam à boca pequena: “entra no governo vira branco”

O jovem motorista negro deu sorte desta vez ao dirigir pelas ruas de São Paulo acompanhado de quem pudesse defendê-lo. Sorte rara.

Negros e negras em postos de governo nunca deveriam esquecer, que ao dobrarem as esquinas dos palácios, saem das reuniões democráticas e voltam a serem negros ‘iguais” circulando pelas ruas da ditadura racial pretoriana instalada no lombo dos negros da República Brasileira.

O Genocídio do jovem negro em marcha.


Enviado por Joca Neto de Belo Horizonte

por Agência Brasil em Jornalismo 02/07/2014

Com mais de 56 mil homicídios, Brasil bate recorde e fica em sétimo lugar entre 100 países

Nota da Mamapress:

jovem salvo foto joãocarlosaraujo

Jovem salvo de linchamento-centro-Rio de Janeiro foto: J. Araújo

O Brasil precisa acordar para esta tragédia que atinge a população brasileira como um todo, mas que devido ao racismo institucional de estado e ao racismo cultural de toda a sociedade, se abate notadamente sobre os homens negros, principalmente jovens pardos e pretos entre 15 a 29 anos. Para cada morto existe uma família que fica, que além da dor emocional da perda física de um ente querido, sofre um abalo econômico que atinge não só a vida da família, como abala a economia de toda a sociedade brasileira.

O número de  41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos é um retrato cruel das diferenças raciais no Brasil e apenas apontam o estado emocional subjacente que vive cada pessoa e cada família negra brasileira.

Cada morto tem parentes, amigos, vizinhos e conhecidos. Cada criança negra vê seu possível futuro, quando no caminho da escola tropeça no corpo desovado de um jovem criança igual a ela.

Cada morto é um parceiro ou seria um futuro parceiro de uma mulher negra que nas próximas décadas não terão possibilidade de escolha entre os homens, de um homem negro para constituir família, pois este homen negro já não existe agora.

Políticas públicas tem sido tomadas para estancar este sangramento genocida, a maioria destas medidas tem sido realizadas na área de segurança pública. Mas por que este índice de mortalidade real só aumenta?

A morte  violenta do jovem negro é aceita pela sociedade, além de estimulada pelas mídias e pelo senso comum de cada brasileiro, de que violência só se acaba com violência.

O genocídio do negro brasileiro não é só uma questão de segurança pública, nem só de mal comportamento de policiais, o genocídio do negro brasileiro faz parte da mentalidade de cada um de nós brasileiros e brasileiras. Parte dos brasileiros estimulam este genocídio enquanto a maior parte aceita passivamente este sangramento econômico, social, cultural e racial da sociedade brasileira.

É hora de termos um plano nacional que ajude a nós todos a mudarmos nossa mentalidade racista e que aceita como normal a violência dos homicídios contra os jovens negros, que está acontecendo em nossas esquinas. MR

 

Brasil bate recorde em homicídios e fica em sétimo lugar entre 100 países

Helena Martins – Repórter da Agência Brasil Edição: Graça Adjuto

A cada dia, 154 pessoas morreram, em média, vítimas de homicídio no Brasil, em 2012. Ao todo, foram 56.337 pessoas que perderam a vida assassinadas, 7% a mais do que em 2011. Os dados são do Mapa da Violência 2014, que mostra um crescimento de 13,4% de registros desse tipo de morte em comparação com o número obtido em 2002. O percentual é um pouco maior que o de crescimento da população total do país: 11,1%.

As principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros. Ao todo, foram vítimas desse tipo de morte 30.072 jovens, com idade entre 15 e 29 anos. O número representa 53,4% do total de homicídios do país. Também, desse total, 91,6% eram homens.

Jovem, homem e negro

Os dados de 2012, último ano da série projetada pelo mapa, mostram ainda que, a partir dos 13 anos de idade, o percentual começa a crescer. Passa de quatro homicídios a cada 100 mil habitantes para 75, quando se chega aos 21 anos de idade.

Os homicídios também vitimam majoritariamente negros, isso é, pretos e pardos. Foram 41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos. Considerando toda a década (2002 – 2012), houve “crescente seletividade social”, nos termos do relatório. Enquanto o número de assassinatos de brancos diminuiu, passando de 19.846, em 2002, para 14.928, em 2012, as vítimas negras aumentaram de 29.656 para 41.127, no mesmo período.

Ranking

Ao todo, ao longo dessa década, morreram 556 mil pessoas vítimas de homicídio, “quantitativo que excede largamente o número de mortes da maioria dos conflitos armados registrados no mundo”, destaca o texto. Comparando 100 países que registraram taxa de homicídios, entre 2008 e 2012, para cada grupo de 100 mil habitantes, o estudo conclui que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos analisados. Fica atrás de El Salvador, da Guatemala, de Trinidad e Tobago, da Colômbia, Venezuela e de Guadalupe.

O Brasil já ocupou posições piores no ranking. A situação foi amenizada tanto por políticas de enfrentamento à violência desenvolvidas internamente, que frearam o crescimento exponencial das mortes, quanto pelo fato de países, especialmente da América Central, estarem vivendo “uma eclosão de violência”. Sobre isso, o relatório destaca que mesmo os países com menores taxas da América Latina, quando comparados com os da Europa ou da Ásia, assumem posições intermediárias ou mesmo de violência elevada. Nesses continentes, segundo a pesquisa, os índices não chegam a três homicídios em 100 mil habitantes.

Entre as políticas desenvolvidas internamente, o estudo destaca a Campanha do Desarmamento e o Plano Nacional de Segurança Pública, em nível nacional, e ações em nível estadual, como as executadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, que geraram quedas nos índices de homicídio em meados dos anos 2000. A magnitude desses lugares pesou na redução dos índices e possibilitou a leve melhora na posição do país no ranking mundial.

Mesmo assim, a situação é preocupante, de acordo com o Mapa da Violência, que é baseado no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e em outros dados do Ministério da Saúde.

Balanço

Entre 2002 e 2012, houve crescimento dos homicídios em 20 das 27 unidades da Federação. Sete delas tiveram crescimento explosivo: o Maranhão, Ceará, a Paraíba, o Pará, Amazonas e, especialmente – registra o estudo -, o Rio Grande do Norte e a Bahia. Nos dois últimos, as taxas de mortalidade juvenil devido a homicídios mais que triplicaram.

Nesse último ano, houve aumento das mortes, especialmente entre os jovens. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreram 56,5 homicídios por grupo de 100 mil jovens, em 2012.

Na década, as unidades que diminuíram as taxas foram: Mato Grosso, o Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pernambuco e, com mais intensidade, o Rio de Janeiro e São Paulo. Apenas seis estados tiveram queda entre 2012 e 2011. Um deles, Pernambuco, diminuiu 6,8%. Os números, todavia, mostram o desafio: nesse estado, foram 73,8 homicídios a cada 100 mil jovens.