Aos sem-partido


Por Luiz Carlos Azedo

do original: Blog do Azedotemos-vagas

Luiz Carlos Azedo

Luiz Carlos Azedo*

A crise de representação dos partidos políticos não é um fenômeno novo. Ganhou corpo com o surgimento dos modernos meios de comunicação de massa, a sociedade de consumo e a desconstrução do sujeito moderno, cuja existência estava associada a classes sociais mais ou menos homogêneas, que deram origem aos modernos partidos de massas. Com a globalização, o enfraquecimento dos estados nacionais e o surgimento de novos atores políticos, essa crise adquiriu a configuração que temos hoje.

Devido à crise ética e ao impasse político que estamos vivendo, o fenômeno virou uma megajabuticaba aqui no Brasil. Tem todos os ingredientes da crise de representação que sacode, por exemplo, a política europeia, cujos melhores exemplos são a Grécia e a Espanha, do ponto de vista de novos atores, e a França, a Itália e Portugal, quanto às agremiações tradicionais. Mas ocorre em meio à recidiva do populismo latino-americano, que já colapsou na Argentina e na Venezuela. E tem como ponto alto o “nunca antes neste país” do PT, cujo transformismo desaguou no escândalo da Petrobras, que está sendo desnudado pela Operação Lava-Jato.

Cerca de 36 partidos com representação no Congresso compõem o cenário do impasse político brasileiro, porém, seus principais protagonistas são três: o PT, partido da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o PMDB, do vice-presidente Michel Temer, encastelado no comando do Congresso; e, na oposição, o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador paulista Geraldo Alckmin e dos ex-governadores José Serra e Aécio Neves, os três pré-candidatos a presidente da República.

Embora se digladiem, esses grandes partidos engessam o sistema político brasileiro, de maneira que os demais só conseguem emergir como uma quarta força, com caráter de renovação, seja qual for o espectro político que represente. E bloqueio do processo político existe em razão de um arranjo institucional complexo: presidencialismo; federação esvaziada pela União; voto proporcional unipessoal para as casas legislativas, com exceção do Senado, onde o voto é majoritário; e sistema de distribuição do tempo de televisão e do fundo partidário que favorece o status quo. Aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o fim do financiamento privado de pessoas jurídicas nas campanhas eleitorais aumentou a barafunda partidária.

A reação dos grandes partidos à mudança foi triplicar o fundo partidário, cuja distribuição é proporcional ao número de deputados de cada partido, e abrir uma janela de 30 dias para filiações partidárias, sem risco de perda de mandato, que começou a vigorar na sexta-feira passada. Legendas de aluguel procuram atrair deputados na Câmara dos Deputados oferecendo a divisão dos recursos adicionais do tempo de televisão na base do meio e meio, ou seja, metade para o “dono” do partido, metade para os deputados, que passam a administrar as seções regionais como se fossem franquias.

O canto da sereia atrai parlamentares que desejam se candidatar às prefeituras de suas cidades e não têm como financiar suas campanhas eleitorais, o que estressa as relações nas bancadas dos partidos que não adotam esse tipo de prática. É desnecessário dizer que esse leilão é um ingrediente a mais na panela de pressão da crise ética, que ameaça degolar dezenas de cabeças do Congresso envolvidas nas investigações da Lava-Jato.

Sangue novo
O modelo de financiamento de campanha adotado pelo STF seria mais compatível com o voto distrital, pois obstrui ainda mais a renovação da política brasileira, ao favorecer quem já está no poder, os candidatos de grandes posses e a utilização de caixa dois. Com o desgaste dos políticos, a possibilidade de levantar recursos nas campanhas eleitorais mediante as doações de pessoas físicas é muito exígua. A grande maioria dos eleitores não quer saber dos partidos, o que dirá doar dinheiro para suas campanhas.

Mas o problema é que não se pode prescindir dos partidos para construir saídas democráticas para a crise que o país atravessa. Esse é o drama atual da sociedade brasileira, cuja conta será paga pelas próximas gerações, uma vez que a atual elite política fracassou, tanto quanto a anterior. O Estado brasileiro não cabe mais no seu orçamento e o atual sistema político está bloqueado. São problemas que não se resolvem à margem da política e sem a participação dos políticos.

*Luiz Carlos Azedo: Jornalista, colunista do Correio Braziliense, formado na UFF nos anos de chumbo e amigo da Rede Radio Mamaterra/Mamapress

Arábia Saudita executou 47 pessoas em um dia


Scheich Nimr al-Nimr

Scheich Nimr al-Nimr

Arábia Saudita executou 47 pessoas em um dia, e defendeu a execução em massa contra a crítica internacional:
Afirmando que:
” Os acusados de terrorismo seguiam os passos do diabo”. (Entre os executaddos estava o famoso clérigo xiita Sheikh Nimr al-Nimr).
“Através de seus atos terroristas sangue inocente foi derramado com o objetivo de abalar a estabilidade neste país “, foi dito, segundo a agência de notícias Saudi estatal SPA, em um comunicado do Ministério do Interior em Riad.
Um total de 45 cidadãos da Arábia Saudita, um egípcio e homem do Chade foram executados.
Sentença de morte como uma ferramenta política contra xiitas.execuções
O Irã – rival xiita da Arábia Saudita na região – condenou o assassinato de al-Nimr Nimrs de forma dura:
“Em vez de lidar com o (EI) terroristas que ameaçam a paz da região e do mundo inteiro, os sauditas executaram uma personalidade como al-Nimr “, afirmou o porta-voz do Ministério do Exterior Jaber Ansari no sábado.
“O ato foi política e religiosamente motivado refletindo políticas irracionais e irresponsáveis dos sauditas!, asseverou o porta-voz iraniano
Al-Nimr foi preso por sua crítica à repressão das minorias religiosas pela família real sunita. O ativista era conhecido por seu apoio a protestos pacíficos.
Inspirado pelos protestos das revoltas árabes havia organizado, o líder religioso de 55 anos de idade, organizara a partir de 2011 manifestações contra a discriminação religiosa na região habitada por xiitas da Arábia Oriental .
A organização de direitos humanos Anistia Internacional havia criticado no passado, a Arábia Saudita por usar as execuções,l também como uma ferramenta política contra a minoria xiita, que responde por cerca de 15 por cento da população.
No país predominantemente sunita clérigos xiitas e ativistas foram sentenciados à morte nos últimos meses.

fonte: Reuters

Mais um a menos: compositor da Vila Isabel é assassinado no Rio de Janeiro. Vítima foi alvejada na porta de casa em um dos acessos ao Morro dos Macacos


por marcos romão

“Com sentimentos de consternação, indignação e revolta o Sos Racismo Brasil, lamenta o assassinato nesta manhã de véspera do natal, dia 24 de dezembro, o compositor Leonel. O sambista é um dos maiores vencedores de sambas-enredos da história da agremiação, incluindo a deste carnaval, em que assina o hino da escola”.

O Sos Racismo Brasil e a coletividade negra do Estado do Rio consideram.  que só um levante da cidadania e uma tomada de consciência de toda a sociedade, poderá estancar o sangue que diariamente escorre nas periferias de nossas cidades.

Na última segunda-feira, o Conselho do Negro do Estado do Rio de Janeiro que representa a coletividade negra do RJ, esteve com o governador do estado Luiz Fernando Pezão. A representação das entidades negras do estado do Rio alertou o governador, que a questão de segurança dos cidadãos que vivem nas favelas, comunidades e bairros mais pobres atingiu um grau insuportável de calamidade pública, onde os moradores já não tem mais nenhuma proteção do estado, seja nas ruas, seja nas portas ou dentro de suas casas.

Reiteraram principalmente que segurança da cidadania é ” Coisa de Chefe”, que não pode mais ficar só nas mãos de chefes de polícia, que estão em um beco sem saída e não conseguem mais sair do modus operandis da “política de confronto” permanente, que já se revela inócua.

Como chefe de estado, o governador precisa convocar toda a sociedade civil, para começar a  mudar a mentalidade geradora de violência em nosso estado.

A morte do compositor Leonel, se inclui na lista de mortos compilada esta manhã natalina, em que mais duas crianças foram mortas em tiroteio entre polícia e bandidos na Cidade de Deus no Rio de Janeiro.

Está na hora dos compositores, artistas, religiosos, jornalistas, advogados, donas de casas, trabalhadores e toda a sociedade civil, arregaçar as mangas e sem as luvas das paixões partidárias se juntar para estancar esta ferida sangrenta e aberta em nosso Estado do Rio de Janeiro.

Na letra do Samba da Vila 2016, Leonel previa a necessidade de artistas e intelectuais para as curas das dores.

CARINHOSAMENTE… PAI ARRAIA
NO LUGAR ONDE ARRECIFES DESENHAM A PRAIA
ACOLHI UM MOVIMENTO, REAL SOLUÇÃO
MAIS DO QUE ALENTO, A CURA DOS AIS
LIBERDADE SE CONQUISTA COM EDUCAÇÃO
JUNTANDO ARTISTAS E INTELECTUAIS

Vítima foi alvejada na porta de casa  em um dos acessos ao Morro dos Macacos

fonte: O Dia

RAPHAEL AZEVEDO

Rio – O compositor Leonel, da escola de samba Unidos de Vila Isabel, foi morto a tiros na manhã desta quinta-feira, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. De acordo com as primeiras informações, ele foi alvejado na Rua Petrocochino, em um dos acessos ao Morro dos Macacos. Segundo testemunhas, dois homens em uma moto efetuaram os disparos.

Leonel, Arlindo Cruz, Tunico da Vila e André Diniz comemoram conquista do samba

Foto: Diego Mendes / Divulgação

A Polícia Civil investiga as circunstâncias do crime. Leonel é um dos compositores do samba-enredo da Vila Isabel de 2013, quando a escola conquistou seu último título, numa parceria com Martinho da Vila, Tonico da Vila, Arlindo Cruz e André Diniz e integrava a direção de Carnaval da escola. Neste ano, ele também fez parte do grupo que venceu a disputa para o samba de 2016. Ao todo, Leonel venceu a competição da Vila 13 vezes. Ele também venceu a disputa de samba no Salgueiro em três ocasições (2002, 2003 e 2004)

Em nota, a Unidos de Vila Isabel comentou o episódio:

Com muito pesar e consternação profunda, a Unidos de Vila Isabel confirma que foi assassinado nesta manhã do dia 24 de dezembro o compositor Leonel. O sambista é um dos maiores vencedores de sambas-enredos da história da agremiação, com 13 vitórias, incluindo a deste carnaval, em que assina o hino da escola, junto com André Diniz, Martinho da Vila, Mart´nália e Arlindo Cruz. Leonel também integrava a Comissão de Carnaval para o carnaval 2016. O enredo da Vila Isabel para o próximo desfile é “Memórias do Pai Arraia – um sonho pernambucano, um legado brasileiro”, que aborda a cultura pernambucana e o sonho de transformar o Brasil através da educação. Ainda hoje emitiremos nova nota com outras informações

Indígenas dos cinco continentes participam de Jogos inéditos


Foto: Reuters

Garota da tribo Xambioá (Tocantins) em Palmas para a primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas- Image copyrightReuters

fonte BBC

Até o dia 31 de outubro, Palmas, a capital do Tocantins, sedia a primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas, com cerca de mil atletas brasileiros e 700 vindos de países como Rússia, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Mongólia, Chile, Etiópia e Finlândia.

Os Jogos Indígenas já tiveram 12 edições nacionais, desde 1996, em diferentes cidades do país, com apoio do governo federal, patrocínio das prefeituras e, eventualmente, de estatais como Caixa Econômica e Eletrobras.

Mas o primeiro evento esportivo e cultural internacional foi ideia dos povos brasileiros terenas e pode impulsionar a criação de uma espécie de comitê para organizar as próximas edições no exterior.

Mais de 20 etnias brasileiras – como os Xerente (os anfitriões, do Tocantins), Bororo Boe (Mato Grosso), Asurini (Pará), Pataxó (Bahia) e Canela (Maranhão) – participam dos Jogos.

O evento, no entanto, também foi boicotado por etnias como os Krahô e os Apinajé, pelo que dizem ser um “momento difícil” para os povos brasileiros, com a demora na demarcação de terras, conflitos violentos com fazendeiros e invasões de territórios já homologados por madeireiros e garimpeiros.

Os Guarani-Kaiowá, presentes nos noticiários pelo alto índice de mortes relacionadas com conflitos pela terra no Mato Grosso do Sul, estão divididos: há delegação da etnia em Palmas, mas algumas lideranças também criticaram o evento em uma carta.

Leia mais: Brasil é cobrado na OEA por violência contra índios

Foto: Reuters

Mulheres do povo Caiapó (Pará); jogos internacionais foram ideia de povos terenas Image copyrightReuters

Foto: Reuters

Na chegada em Palmas, diversos índios como este Caiapó tiravam fotos da reunião de povos nativos em smartphones-Image copyrightReuters

Foto: Reuters

Image captionOs Guarani-Kaiowá enviaram uma delegação de atletas (foto) a Palmas, mas alguns líderes criticaram o evento-Image copyrightReuters

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Foto: AP

Carajás protestaram contra a PEC 215, que transfere para o Congresso a atribuição de aprovar a oficialização das terras indígenas-mage copyrightAP

Foto: AP

Foto: AP

Índios Kuikuro (Mato Grosso) apresentam dança tradicional no festival cultural que precedeu os Jogos Indígenas-Image copyrightAP

Foto: Reuters

Com uniformes e adereços tradicionais, índios caiapó esperam sua vez na competição de futebol-Image copyrightReuters

Foto: AP

Reunindo indígenas de 24 países, o evento possibilita encontros como este de uma índia da Sibéria, na Rússia, com nativos do Panamá- copyrightAP


Foto: AFP

Os olhos arregalados e a língua de fora são uma expressão facial tradicional do maori, da Nova Zelândia, para demonstrar força e emoção-Image copyrightAFP

Os Jogos Indígenas misturam competições esportivas com modalidades de “demonstração”, em que povos fazem apresentações de alguns de seus esportes tradicionais, e atividades culturais.

Entre os esportes de competição estão o futebol masculino e feminino, o arco e flecha e a corrida com toras e a natação. Entretanto, os países não competem necessariamente em todas elas. Algumas serão disputadas só por brasileiros.

Os atletas são escolhidos pelos chefes de cada tribo convidada a participar dos Jogos.

Leia mais: Jogos Mundiais Indígenas enfrentam boicote em protesto contra governo

Foto: Reuters

Pataxós assistem a um jogo de futebol de seus atletas contra os Xerente-Image copyrightReuters

Foto: APIm

Foto: AP

Na cerimônia de abertura, indígenas dos Estados Unidos fazem uma apresentação- image copyrightAP

Foto: AFP
Foto: Reuters

A abertura dos jogos também foi marcada por protestos pela demarcação de terras indígenas e pelo fim dos confrontos com fazendeiros- mage copyrightReuters

Neste domingo, segundo a Agência Brasil, os indígenas da Mongólia impressionaram os espectadores em uma demonstração de destreza e precisão no arco e flecha.

Os mexicanos também jogaram a pelota mixteca, semelhante ao tênis, em que rebatem uma bola de 900 gramas para o time adversário com a ajuda de uma pesada luva de couro cheia de cravos de metal.

Já os brasileiros caiapós demonstraram o rõnkran, em que usam bastões para conduzir um coco de babaçu até o campo do adversário e ganhar pontos.

E os índios pataxós praticaram a corrida de maracá, em que revezam um chocalho tradicional.

Foto: Getty

A corrida com toras é um dos esportes tradicionais em que as tribos irão competir durante a semana dos Jogos-Image copyrightGetty

Foto: AP

Indígenas da Mongólia, homens e mulheres, impressionaram os espectadores em demonstração de arco e flecha-Image copyrightAP

Foto: AP

Índios brasileiros e maoris se juntaram durante as demonstrações de arco e flecha em Palmas-Image copyrightAP

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Foto: EPA

Um desfile de beleza indígena teve 50 mulheres de diversas etnias com seus trajes típicos, como esta índia russa- Image copyrightEPA

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Image captionUm desfile de beleza indígena teve 50 mulheres de diversas etnias com seus trajes típicos, como esta índia russa
Foto: AFP

Índia da Guiana Francesa participa de desfile de beleza indígena, parte da programação cultural dos Jogos- Image copyrightAFP

Foto: Getty

Os caiapós demonstraram o jogo rõnkran, espécie de hóquei em que eles usam um bastão para conduzir um coco de babaçu até o outro lado do campo- Image copyrightGetty

Jovens negros solidários com jovens negras que reagiram contra racistas no banheiros da USP-Ribeirão Preto


O Brasil passa por um novo momento, somos outro tipo de juventude do movimento negro. Na época de nossos mães e pais, avôs e avós, lutava-se para ter direito ao ensino básico, ao emprego digno, a salários melhores, a moradias, a respeito, a não segregação dos espaços sociais, tentava-se sobreviver. Quantos de nós pretos e pretas somos as primeiras gerações a frequentarem um ensino superior, a trabalharmos como gestores, a propormos projetos, eventos e atividades? Queremos nossa cidadania por inteiro. Temos direito a esse país. Somos descendentes daqueles que deram seu sangue, seu suor, sua vida, sua emoção, sua cultura por esse país chamado Brasil.

O que seria do Brasil sem os africanos? Foram mais de 6 milhões traficados forçadamente para cá. Abriu-se estradas, construiu-se igrejas, levantou-se prédios públicos, arou-se o campo, tocou-se o gado, animou-se os eventos festivos e tudo mais. 127 anos se passaram após a abolição, do desfecho nefasto da escravização no Brasil e ainda somos as primeiras gerações a entrarem na universidade.

Nós não precisamos pedir nada, nós viemos por que é nosso direito, nós viemos propor, nós viemos transformar essa sociedade. Cansa-nos as abordagens policiais truculentas e genocidas, cansa-nos o maus tratamento nos médicos e nos trabalhos de parto, cansa-nos a sub-representação política e econômica, cansa-nos a história racista que nos é contada nas escolas, cansa-nos os preconceitos diretos e indiretos por causa da nossa pele, da nossa cor.

O desabafo agressivo na USP foi contra tudo isso, foi contra pretensas pessoas educadas e brancas que covardemente escreveram palavras racistas no banheiro, contra os casos de racismo que explodem em diversas universidades do Brasil, por causa da nossa pele, da nossa cor.

Nós apoiamos as jovens da Faculdade de Direito da USP – Ribeirão Preto, pois não acreditamos que elas tenham sido racistas, ou praticaram racismo reverso, justamente porque racismo ao reverso não existe. Racismo, na nossa concepção filosófica e jurídica emana de um determinado poder e tem base consuetudinária. O poder emana das pessoas brancas, que são os símbolos da opressão na nossa sociedade. Esse poder dominante, quase que por “osmose reversa” considera os pretos e pretas dessa sociedade, pessoas incapazes, entre outros adjetivos pejorativos.

Os costumes da nossa sociedade são os fatos crescentes e latentes de preconceito contra pessoas de cor. Basta procurar nos Boletins de Ocorrência, nos Jornais, como existe milhares de casos de agressões racistas contra o preto e a preta, seja na escola, seja no banco, seja na universidade, seja no mercado de trabalho, sejam em qualquer ambiente social no Brasil. Os casos contra os brancos são ínfimos. Ou seja, racismo advém de uma supremacia branca que domina o país.

Foram 400 anos de trabalhos forçados como escravizados no país. Até hoje nenhuma reparação foi feita. Não distribuíram terras para os “negros” como fizeram para muitos imigrantes. Não abriram postos de trabalhos exclusivos para os “negros” como fizeram para os imigrantes. Os negros saíram da escravidão com uma mão na frente e outra atrás.

As riquezas do açúcar, do café, do algodão, da borracha, do ouro e pedras preciosas, do cacau, foram todas transferidas para os brancos, sem indenização alguma para os pretos. Isso não é vitimização. Os ancestrais dos descendentes de brancos nesse país cometeram o maior crime que se poderia cometer na face da Terra. São os maiores criminosos impunes. Não podem recusar, porque nós somos as testemunhas vivas do sequestro, do estupro, da pilhagem, da crueldade, do assassinato, que os brancos promoveram na face da Terra.

São os maiores criminosos impunes. Não podem recusar, porque nós somos as testemunhas vivas do sequestro, do estupro, da pilhagem, da crueldade, do assassinato, que os brancos promoveram na face da Terra. O Brasil como pessoa jurídica carrega consigo a culpa de todas as atrocidades e tem uma dívida histórica com negros. Não é vitimismo, somos vítimas mesmo! É por isso que os racistas nos devem até a alma!

 

Suprapartidarismo como forma de combate ao racismo


Protesto em frente ao Colégio Internacional Anhembi Morumbi manifestou apoio a estagiária que acusa a diretora da escola de racismo-2011 foto Marina Morena Costa

Protesto em frente ao Colégio Internacional Anhembi Morumbi manifestou apoio a estagiária que acusa a diretora da escola de racismo-2011 foto Marina Morena Costa

por Humberto Adami

do original: Afrobrasileiros nossa voz

Cada vez mais percebo que a partidarização como combate ao racismo é um mal em si mesmo, multiplicadora da ausência de quadros relevantes. Afasta pessoas, torna vítimas do racismo, cegas em si mesmas.

O fato de pertencer a um partido político, coisa tão simples que ocorre com a assinatura de uma ficha de filiação, não deveria separar pessoas em grupos ou nichos. Ou se assim o fizesse, deveria existir para reunir pessoas e não para separá-las.

Não é que os partidos políticos não devam e não possam participar de tal debate, ao contrário. Mas discriminar outros discriminados porque são de outros partidos, ou privilegiar só aqueles da agremiação partidária é algo que torna suspeita, as atividades e sentimentos de tal pessoa. Não é aceitável que se privilegie os negros do PT, porque são do PT ou do PSDB ou do PMDB ou do PSTU ou do PSOL, ou de qualquer partido. Há um limite que tenho observado e que não deveria ser ultrapassado.

Na época da Ministra Matilde Ribeiro, essa atitude fez existir duas marchas Zumbi dos Palmares + 10. O ano era 2005. A marcha dos sem partidos, no dia 16 e a marcha dos com partido, no dia 22. Perderam todos. Os espaços políticos foram diminuídos, e o espetáculo de desagregação foi o já comum antes visto. Apesar disso, alguns não aprenderam e seguem colocando partidos políticos à frente da própria luta contra o racismo. Não penso e não ajo assim.

As balas perdidas que atingem pobres e pretos não indagam a que agremiação política estes pertencem. É uma pena que tais espaços anexos aos partidos (já que todos eles, quase sempre, não fazem parte da direção do mesmo), não sejam usados indistintamente, em prol do combate ao racismo. Enquanto partidos políticos tem ido regularmente ao STF contra cotas, quilombolas, feriado de Zumbi dos Palmares e PROUNI, não se vê tais estruturas partidárias atuarem em auxílio de seus mandatos parlamentares para proliferaram a agenda positiva do Movimento Negro. Como se vê, ausentes os partidos políticos dos grandes julgamentos do STF, na questão racial.

Em outros assuntos, os partidos políticos ajuízam ações, contratam advogados, fazem a diferença. Veja-se a questão da Liberação da Maconha. Quando eu trabalhei como Ouvidor da SEPPIR, tentei bastante que os colegas partidários levassem seus partidos ao apoio formal das ações judiciais. Eles, no entanto, entendiam que: 1) não era o caminho 2) que contribuía para a judicialização, embora o partido que judicializava não perguntasse nada para os demais 3) que colocava em risco as decisões políticas 4) que o Direito está à reboque das transformações da sociedade. Um deles quando conseguiu que o partido decidisse ir à juízo, o fez sem se atentar às regras da Advocacia e perdeu o prazo de ingressar com a ação. Muito feio, um vexame.

Por causa disso tudo, sempre me pauto pela forma suprapartidária de atuar, garantindo espaço a todos. Não vejo como o combate ao racismo se intensificar, enquanto tais ponderações não forem um mantra. Daí porque muitas atuações de combate ao racismo não ultrapassam o adjetivo de “periféricas”. É nesse sentido que tenho entendido como deva ser a atuação da Comissão Nacional da Verdade da ESCRAVIDÃO NEGRA no Brasil, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados. A OAB é de todos os brasileiros.

Quer ver corpos de negros? Vá ao Instituto Médico Legal. “Contra-Exibit-B”, o filme sobre a importação zoológica do racismo


cartaz exibiti cotrao

Por Marcos Romão, em coletivo com Filó Filho, Delanir Cerqueira, Luana Galdino, LuanaVieira, Luz Luciana, José Andrade e Ortrun Gutke.

O espetáculo Exhibit B pretende apresentar-se na MIT (Mostra Internacional de Teatro – SP) 2016 e no “Tempo Festival” no MAR – Museu de Arte Rio. A instalação que reproduz um zoológico humano, com negros mudos reduzidos a atração de zoo já foi cancelado em Paris, Londres e outras cidades da Europa após intervenções e manifestações da militância negra.

No último dia 13 de outubro no Museu de Arte do Rio – MAR, na Praça Mauá, centro do Rio de Janeiro, aconteceu um encontro aberto ao público com a participação da antropóloga Ana Paula da Silva, a escritora Marcia Zanellato, a cineasta Yasmin Thayná e o convidado sul-africano Brett Bailey, dramaturgo, artista, diretor e curador da companhia “Third World Bunfight”, que propõe a instalação performática Exhibit B, que vem gerando uma série de manifestações contrárias, deflagradas por acusações de ser uma peça racista e neocolonial por onde passa.

O evento foi organizado pelo MAR que abriu espaço para um debate da curadoria do “TEMPO FESTIVAL”, que convidou Brett Bailey a vir com sua peça ao Brasil, com o público presente sobre se é oportuno a exibição dessa peça no Rio de Janeiro.

A princípio, o que seria igual a todos os debates em que autores e produtores expõem suas intenções e ideias de suas obras, e todos voltam para casa contentes, mudou de figura à partir do Momento em que ao invés de falar, o autor Brett Bailey, quis mostrar um vídeo de propaganda da peça Exhibit B.

A plateia com uma presença maciça da comunidade negra do Rio, Rio Grande do Sul e São Paulo, recebeu o microfone de uma palestrante jovem e negra, e passou a exigir um debate com a direção do MAR e os responsáveis pelos financiamentos para a cultura na cidade.

Representantes de coletivos negros manifestaram-se contra a exibição da peça no Brasil, com base na defesa do princípio que a dignidade humana é intocável e deve ser protegida  e preservada.

Colocaram que 127 anos depois da escravidão,  o povo negro ainda vivencia e resiste às sequelas do crime de escravidão.  Que as crueldades do período da escravidão podem ser vistas no Brasil tanto a olho nu, quanto através das estatísticas.

A vinda zoo humano de Exihbit B ao Brasil reforçará a ideia covarde de que a história do negro começou na escravidão.

A cobertura do encontro obteve imagens e edição de Filó Filho para Cultne Mídia, suporte da Rede Mamaterra com Marcos Romão, Delanir Cerqueira e Ortrun Gutke; SOS Racismo Brasil; Coletivo FRENER com Luana Galdino e Luana Vieira; e CFN – Coletivo de Fotógrafos Negros com Jose de Andrade e Jorge Ferreira.

A grande pergunta feita nesta noite ao mundo intelectual e artístico do Rio de janeiro e do Brasil, foi:
Por que um artista branco sul-africano que viveu até os seus 27 anos, no lado confortável do Apartheid, e só foi ter contato com negros em uma experiência espiritual de três meses com o povo Xosa, se permite fazer uma peça como se fosse um “entendedor” de negros, que expõe a carne e alma muda dos negros de todo o mundo?

Ele evita falar de sua família e da história dos brancos de seu país, que ele com certeza sabe melhor que qualquer negro sul-africano. Por que Brett Bailey procurou e se sentiu tão à vontade e em casa, em seus contatos com intelectuais e artistas brancos brasileiros, em suas agruras e dúvidas de identidade de homem branco?
Umas das respostas primeiras, é que tanto na África do Sul do Apartheid, quanto no Brasil de 2015, os intelectuais, artistas e pensadores brancos brasileiros, crescem e se educam em redomas de vidro só para brancos e um punhados de negros de estimação.
Quando chegam nas universidades, estes garotos “redomados” e que viveram enjaulados, tomam um choque de realidade ao verem que tem negros do outro lado do muro.

Os brancos mais conscientes passam a ser solidários com os negros, tentam fazer uma imersão no mundo negro paralelo que nunca tinham reparado.

Não prestam atenção entretanto, no fato de que foram educados para serem superiores. Como um carro Mercedes, eles têm embutido em sua marcha de vida, que em qualquer rua que entrem, terão sempre a preferencial para passar por cima do que estiver na frente.
Assim os mais extremos em seu afã de solidariedade tardia e cheios de sentimento de culpa não reconhecida, tornam-se teoricamente mais pretos que os negros, e passam a falar para os outros brancos em nome do negros.

Se algum negro abrir a boca eles dirão que se calem, pois sempre sabem os melhores caminhos para a libertação dos negros.

Um exemplo clássico no Brasil, deste tipo de aproach da realidade, foi o indianismo na literatura e nas artes. Os povos indígenas estavam sendo dizimados, mas viravam heróis de pureza ideal. Até libreto de ópera os povos indígenas viraram, enquanto sumiam do mapa da terra.
Nas artes em geral e na música como exemplo mais acessível para todos perceberem como a dominação funciona, o branco brasileiro precisa do negro e do índio, para inspirados em suas espiritualidades, vencerem em suas carreiras.

Foi assim que aconteceu na Bossa Nova, no Tropicalismo e mais recentemente na Onda Axé.

Brancos incorporados de negros ganham dinheiro e os negros ficam na vala da estrada da história. Morrem bêbados. É claro que tem exceções, mas conta pouco.

Edição de texto: Rosane Romão

Cunha e Dirceu. Atire a primeira pedra. A cabala moral de quem fez 18 anos durante a ditadura.


por marcos romão
cunhao

Me espanto quando vejo que o Cunha não é mais velho que eu.

Eu pensava que ele já estava beirando os 70, como é a impressão que tenho da idade que aparentam ter, ao avaliar também as fotos dos vetustos do STF e do parlamento.
Devo estar noutro mundo, pois apesar de nas fotos parecer gente do século XIX. O Cunha é um franguinho do século XX
O cara, também chamado Consentino, nasceu só em 1958, ano em que o Brasil foi pela primeira vez campeão mundial de futebol e eu escutava as firulas do Garrincha através do rádio transitor do meu tio Etiènne, durante os racionamentos de luz em Niterói.
O cara então, tinha só 18 anos em 19765, quando a ditadura matou Vladimir Herzog e já tinha matado Oswaldão e, desfilado com seu corpo pendurado em um helicóptero para a população campesina ver, e baixou um manto de escuridão no país, para eliminar tudo que respirasse com cheiro de oposição remanescente das eliminações e execuções anteriores.
1975, ano em que Cunha completou sua maioridade, se alistou-se, eu não sei se serviu exército, foi o ano em que o núcleo duro das forças armadas, pretendeu instalar o regime em que o Brasil alcançasse finalmente a paz dos cemitérios do Araguaia às cidades de todo o país.
18 anos de idade é uma época, que para qualquer um, marca uma vida. É um ano de passagem, de indefinições e definições. É um momento simbólico em que todos nós demarcamos nossos valores éticos e morais para toda uma vida. Não é uma idade de valores definitivos, mas fica para todos nós como uma baliza. A partir de então nossas vidas, ora pendem prá cá, ora prá lá. Mas a baliza fica.
Que fazia a este tempo Cunha e muitos de sua geração, que hoje estão no poder em Brasília?
5 anos mais velho, eu estava andando pelas sombras da faculdade e da América Latina. A maioria dos meus amigos de geração, estavam calados e escondidos e quem saísse da toca, mostrasse a cara e falasse era calado ou eliminado. Que fazia Cunha e os conservadores que estão hoje no parlamento?
A maioria dos jovens em 1973/75, só sentia os reflexos do terror que se passava. Admirava um Simca e via Hebe Camargo na televisão. Um punhado ia para as dunas dos baratos, e menos ainda iam para a guerrilha.
Com a anistia de 79, início do final de uma ditadura que durou ainda mais 6 anos, minha geração e os oposicionistas mais novos e mais velhos que eu, que durante 21 anos, vivemos por necessidade uma vida dupla, em que nossos sentimentos, opiniões e ações, por absoluta imposição para nossa sobrevivência física, eram mantidos em segredo, esquecemos de avisar internamente e à sociedade, que a era de clandestinidade e moral dupla acabara. Esquecemos de avisar que a consolidação de uma democracia, exigia uma absoluta transparência nas ações políticas de cada um.
O resultados desta cegueira política, tivemos evidenciado pelo lado das esquerda, no mensalão e seus filhotes, em que aturdidos assistimos toda uma geração de lutadores contra ditadura, ficar sem ação e emparedada pelo comportamento criminoso de lideranças ex-guerrilheiras, que muitos amavam e confiavam. Tentaram justificar seus erros, através da falsa interpretação de Maquiavel, utilizando a máxima do príncipe, que “os fins justificam os meios”.
E quais foram os resultados da perniciosa vida sob a ditadura e suas continuidades residuais, para a maioria silenciosa e para os conservadores de hoje, que completaram 18 anos de idade, durante os 21 anos de ditadura, que hoje estão no espaço de idade entre 69 e 58 anos invernos?
Com nosso esquecimento no lembrar valores, que estavam sendo construídos antes da ditadura e que desejávamos construir depois da ditadura. Nada foi passado para toda esta gente e para os que estavam chegando, sobre princípios morais e de convivência digna entre grupos humanos. Nenhum mecanismo de controle social de fortalecimento da cidadania foi estabelecido.
Durante a ditadura e durante a luta contra ela, haviam princípios morais respeitados de lado a lado. Não se traía companheiros, nem se enganava quem estava junto na luta. Ostracismo e até a morte eram as penas não oficiais. Era a guerra.
Acabou a ditadura, e dela só ficou o jogo sujo de uma guerra surda que se perpetua, só ficou a tortura e a morte que se disseminou institucionalmente. Só ficou principalmente, a lei do silêncio e do “omertá”.
Nos calamos e afloraram nas esquerdas e nas direitas, os comportamentos estilos Dirceus e Cunhas.
Cada lado escolhe o seu culpado.
Desde 1979 estamos vivendo à Bangu”, diria meu avô, sobrevivente de Verdum na I Guerra Mundial.
Somos uma geração castrada pela ditadura durante 21 anos, em nossas possibilidades de vivermos e aprendermos a construir um estado democrático e transparente.
Estamos em 2015 e ninguém com acesso à internet precisa da Polícia Federal, para investigar quanto custa cada mensalão e canda mensalinho nas trocas de ministérios e secretarias federais, estaduais e municipais. Basta olhar qual o custo do somatório dos ganhos de cada cargo comissionado oferecido em troca de apoio e votos para se manter o que agora chamam de governança.
Somos uma geração em que todos nós, temos um pouco de Dirceu e de Cunha.
O modelo da República Velha ganhou “Smartphone” e “What´s Up”e verniz “social”, mas continua o mesmo e não dá para comparar qual o modelo é mais brutal e mais reacionário e conservador. Fato é que são modelos impedidores da construção de uma democracia, em que toda a sociedade participe das decisões sobre seu destino.
Estamos próximos de um golpe de estado, alguns analistas das periferias me informam, que por lá já está acontecendo. Me pedem para olhar os dados que informam que as polícias dos governadores se armaram até os dentes, com a verba federal para a Copa 2014, e que o povaréu nem chance tem de fazer o gol de honra.
O “caso Cunha” parece ter dado uma freada nos conservadores e na direita já de posse de alguns poderes.
Mas o buraco é mais embaixo, segundo a maioria silenciada. A pergunta que se faz, é trocar o que pelo que?
O que resta desta geração 64/85 que apostou na democracia e nas liberdades democráticas, tem uma responsabilidade enorme.
A grande maioria destes que lutaram pelas liberdades democráticas, nos quais me incluo, não tem poder nem armas. Ao poder sempre procuraram influir através de manifestações e voto. Armas nunca precisamos nem é nossa opção, pois temos a palavra, a dignidade e a história na memória.
Se não existisse esta maioria silenciada até hoje, muitos dos que estão no poder não estariam mais vivos. Teriam sido executados ou desaparecidos nos anos das trevas.
Por esta história que muita gente que está calada tem, é que digo, que se pode falar do estilo Dirceu e do estilo Cunha, que trato aqui apenas como “tipos ideais” pegos com as mãos na botija, de um comportamento generalizado, institucionalizado e aceito pela classe política brasileira.
Por isso insisto e digo, abramos a tampa da nossa história tapada e trancada a ferrolho pela “Anistia Ampla Geral e Irrestrita”. Para isto não há necessidade de decretos, basta começarmos a falar.
Se as novas gerações vão fazer alguma coisa com o que falarmos para as gerações atuais e futuras, será responsabilidade delas.
Nosso silêncio é responsabilidade nossa.
O torturadores por ofício e medo morrerão calados. O Coronel torturador Paulo Malhães que começou a falar morreu assassinado pelos colegas, mas dava para ver em seus últimos depoimentos, que morreu em paz consigo mesmo pela revelações.
Nosso silêncio de lutadores pelas liberdades democráticas, produziu o que vivemos hoje, que é uma sociedade sem baliza moral e ética, onde dignidade e a vida humana nada contam.
Podemos não mudar nada com o que falarmos, mas quem acredita, deve informar para as novas gerações, que direitos humanos, dignidade, ética, respeito à vida humana e liberdades democráticas são coisas boas para respirar e, fazem pesar menos os nossos caixões quando formos para o túmulo.
Em nossos velórios, quem chegar poderá ver nossos sorrisos matreiros de paz alcançada por termos cumprido nosso dever, em passarmos o que sabemos para nossos filhos e netos e todas as gerações futuras.

Confudiram Anistia Ampla Geral e Irrestrita, com esquecimento do passado e violações generalizadas no presente


A Anistia Ampla Geral e Irrestrita foi confundida com esquecimento e apagamento da história das crueldades e barbaridades conexas, cometidas no período da Ditadura Civil-Militar que imperou no Brasil durante 21.
Muitos de seus agentes, não só os torturadores, mas mentores, colaboradores, dedo-duros e informantes estão hoje no poder e nas suas franjas menos visíveis.
O esquecimento do passado condena toda a geração atual, a conviver com pessoas que até hoje mantém uma vida dupla. Que são clandestinas de si mesmas, que posam de democratas, vestem cargos públicos e dão conselhos para a sociedade, mas que escondem seus passados fascistas e que nunca foram chamados à responsabilidade.
A lei do silêncio que se abateu na sociedade brasileira pós-anistia, permitiu que a máquina do terror e violações da pessoas humanas, ganhasse novas formas, se espalhasse por todos os setores da sociedade, e criasse toda uma cultura de aceitação da violência por todos nós, das torturas e execuções em nome do Estado, praticadas por alunos, dos “doutores da violência” formados no período da ditadura.
Hoje, os métodos da ditadura civil-militar são aplicados nas periferias brasileiras. O vídeo “Em busca da Verdade” é para mim menos que uma viagem ao passado, e mais um desafio a debruçarmos nas causas da guerra silenciosa que vivemos hoje no Brasil. Mudaram os protagonistas, mas os papéis continuam os mesmos. ‪#‎marcosromaoreflexoes‬

Foto de Senado Federal.

Escrúpulos de consciência ou os fins justificam os meios.


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense – 20/09/2015

As investigações da Operação Lava-Jato desnudam uma crise ética que coloca em xeque o próprio governo Dilma Rousseff. Revelou-se o esgotamento de um modelo de financiamento dos partidos

Políticos profissionais, em sua maioria, são pragmáticos ao extremo e não estão entre os seres mais escrupulosos. Em O Príncipe, Nicolau Maquiavel dizia que a legitimação do poder, fundamental para a conquista e a preservação do Estado, depende muito desse pragmatismo e da falta de escrúpulos: “Quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte, ele se arruína logo que ela muda. Feliz é o príncipe que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos.”

Na construção do Estado moderno, a forma como a “virtú” foi colocada em prática em nome do governo passou ao largo de valores cristãos e da moral. “Não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtú pode consegui-los e por eles luta.”

Escrúpulos de consciência costumam ser deixados de lado quando o que está em jogo é a preservação do poder. “Um príncipe não deve, portanto, importar-se por ser considerado cruel se isso for necessário para manter os seus súditos unidos e com fé. Com raras exceções, um príncipe tido como cruel é mais piedoso do que os que por muita clemência deixam acontecer desordens que podem resultar em assassinatos e rapinagem, porque essas consequências prejudicam todo um povo, ao passo que as execuções que provêm desse príncipe ofendem apenas alguns indivíduos.”

Daí surgiu a interpretação de que os fins justificam os meios, que às vezes parece ser uma regra de ouro dos políticos, somente confrontada pelo fato de que, numa sociedade democrática, a “ética das convicções” – que leva os políticos a não medirem esforços para alcançar seus objetivos – deve ser contida pela “ética da responsabilidade”. Nesse sentido, na interpretação de Max Weber, um dos pais da sociologia moderna, caberia à burocracia assegurar a legitimidade dos meios aos quais recorrem os políticos.

A História do Brasil coleciona exemplos dessa prática. “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”, disse o então ministro do Trabalho e da Previdência Social, Jarbas Passarinho, durante a reunião ministerial que decidiu editar o AI-5, em 1968, durante o governo Costa e Silva. A frase foi modificada na ata sem prejuízo de sentido (as “favas” foram trocadas pela conjugação verbal “ignoro”). Desnecessário tecer mais detalhes sobre as consequências da decisão, que assinalou o endurecimento do regime militar, que durou até 1985.

O caso do mensalão e, agora, o escândalo da Petrobras, num contexto histórico completamente diferente – perseguidos com base no AI-5 é que estão no governo –, são também uma demonstração de que os escrúpulos de consciência foram deixados de lado no exercício do poder. O esquema montado na petroleira estatal para financiar campanhas eleitorais do PT, PMDB e PP, segundo o Ministério Público Federal, não tem precedentes: dezenas de políticos estão sendo investigados, executivos e donos de empreiteiras, e altos funcionários da empresa foram presos e estão sendo condenados. O projeto de perpetuação no poder derivou para a grande roubalheira.

Os reflexos do escândalo estão em toda parte. As investigações da Operação Lava-Jato desnudam uma crise ética que coloca em xeque o próprio governo Dilma Rousseff. Do ponto de vista institucional, revelou o esgotamento de um modelo de financiamento da grande política nacional e dos seus principais partidos. O Supremo Tribunal Federal (STF) de quinta-feira passada, por 8 votos a 3, que declarou inconstitucionais normas que permitem a empresas doar para campanhas eleitorais. A decisão do STF não proíbe que pessoas físicas doem às campanhas. Pela lei, cada indivíduo pode contribuir com até 10% de seu rendimento no anterior ao pleito, o que não está regulamentado e beneficia quem já está no poder.

Mas voltemos aos escrúpulos de consciência. Parece que a presidente Dilma Rousseff também está mandando-os às favas no ajuste fiscal. Depois de o governo defender uma lei que permita a entrada no país de recursos depositados ilegalmente no exterior – isto é, dinheiro acumulado ilicitamente, das mais diversas formas, como tráfico de drogas, contrabando e desvio de recursos públicos –, o Palácio do Planalto avalia aprovar uma lei legalizando o jogo do bicho, os bingos e a instalação de cassinos, como forma de aumentar a arrecadação. Ou seja, mais uma vez, os fins justificariam os meios