Pare de chorar negro! Reaja!


por marcos romão

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Marcos Romão
Sociólogo e ativista do movimento negro mundial desde 70

O neoliberalismo, os incentivos prometidos e a boa massagem da propaganda de que basta fazer o certo para chegar no lugar que se almeja.
Fez com que boa parte dos artistas, jogadores, intelectuais, jornalistas e tudo mais que é profissional negro e negra, até por bom tom junto aos novos patrões que “reconheciam” o seu valor, rejeitassem tudo que tivesse cheiro de organização antirracista, que cheirasse a nego reclamão e mau agradecido.
Afinal já tinham chegado no paraíso “por si mesmos.”
Formaram assim o que chamo de gerações de  “mulatos mentais”, sonho que nem o Gilberto Freire nem Monteiro Lobato teriam em seus sonhos de limpeza da raça.
Racismo era coisa do passado, era coisa de negro e negra dos 70.
A sociedade estava chegando no século XXI, já tinham seus notebooks e passagens aéreas à prestações, e os amigos brancos já tinham outra cabeça…eram todos não racistas, racismo era coisa do século XX.
As marolas da crises políticas, econômicas e sociais começaram a virar ondas no Brasil e para surpresa da garotada negra dos 10 aos 70 anos, voltamos ao Brasil do século XIX.

Da porta da delegacia ao STF negro leva cassete pela cor que carrega, é o fato.

A sociedade não racista era apenas um verniz, um santo de pau-oco a engabelar os “mulatos mentais”, enquanto a higienização e limpeza racial das cidades e dos campos aconteciam.
Milhares de jovens negros mortos à bala todos os anos, militarização dos bairros pobres que viraram guetos e discursos no parlamento, que repetem a velha cantilena que a culpa da crise são as migalhas dadas aos negros e aos índios.
O pau começou a cantar e não se sabe para onde correr. A organizações antirracistas desapareceram e a sociedade não sabe ou não quer lidar com o racismo do século XXI.
Minha esperança, lá venho eu de novo com minha impertinente esperança que não morre, é que esse verniz mental na cabeça dos negros seja apenas superficial e que despertem rapidamente a consciência, que não podem ser mais discriminados, presos ou eliminados como baratas.
Que reajam ao invés de só chorarem.
Temos direito às cidades e aos campos, chega de remoções e expulsões da maioria negra dos melhores pontos das cidades.

Temos direitos aos direitos. Temos direito a tudo!

Se não corrermos atrás ninguém irá fazê-lo por nós

4 pensamentos sobre “Pare de chorar negro! Reaja!

  1. É bem por aí, parceiro. Também tenho refletido muito sobre isto, esta classe de “mulatos mentais”. Chamo o fenômeno de “Síndrome do Escravo” que, infelizmente considero um aspecto natural da exclusão sócio racial (simplesmente social, mais propriamente, pois, está presente em todos os colonialismos, mesmo os poucos que não se baseiam também no racismo) no Brasil.

    Infelizmente o fenômeno me parece mais complexo e arraigado em nosso sistema do que uma mera fase, superável do processo. Acho que é um elemento chave a criação de uma classe média que sirva de anteparo e válvula de escape às reações anti sistema.

    Não tenho a menor esperança de suoerarmos isto, simplesmente esperando o caráter agudo de nossa exclusão sócio racial acorde esta gente. Eles estão bem acordados e o sistema vai compensá-los sempre, de algum modo.

    Há que se gastar muito esforço para entender onde está a saída que não seja partir para a ignorância. A desobediência civil organizada me parece uma boa trilha.

  2. Meus amigos! o incidente de racismo que aconteceu com o árbitro Márcio Chagas da Silva no RS vai passar desapercebido? A única punição que o clube receberá é a perda de 3 pontos! Vamos acionar o Ministério Público e os movimentos sociais para ajudar este irmão! Vamos mostrar nossa força para que isso não se repita!

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