Professora, a senhora é evangélica e conhece a História da África?!


Um relato da professora Gicélia Cruz

GicliaNegra

Gicélia Negra

Olá, pessoas queridas!

Trago um relato ocorrido na aula de História Social, quando eu procurava analisar, juntamente com a turma do 6º/7º anos da EJA, o tema Identidade Cultural.

Ao falar sobre a influência africana na construção da identidade cultural do Brasil, dois educandos começaram a me olhar de forma inquisitora, e uma educanda já foi logo me perguntando qual era o nome do “terreiro que eu frequentava”; pediu que eu levantasse as mangas da minha blusa para mostrar os cortes no meu braço, e ainda foi mais longe: disse que tinha tirado o mega para fazer alguma obrigação. Sinceramente não me assustei, e perguntei tranquilamente por que ela “achava que eu era candomblecista’. Então ela e outro colega começaram e dizer que eu conhecia demais sobre a cultura africana. A coisa foi ficando mais interessante quando eu falei algumas palavras em iorubá e expliquei que os Terreiros de Candomblé guardaram muitas tradições africanas.

Ai foi que eles não aguentaram, e começaram a repetir: Essa professora é da macumba, essa professora é macumbeira!!!!

Rsrsrsrs
Expliquei que eu não era candomblecista, mas uma pesquisadora da história africana no Brasil, e que estava colocando em prática uma Lei Federal de nº 10639/2003, onde diz que devo Ensinar a História Africana e Afrobrasileira na sala de aula. Falei da importância de conhecer minha história/ancestralidade enquanto uma negra diaspórica.

Então, de imediato eles disseram: então a senhora é evangélica! E ficaram meio que assustados.
KKKKKK

Achei esse episódio fantástico!

Imaginem uma professora batista ouvindo isso!!!!
Então, pesquisar sobre minha história me tira do lugar de crente em Jesus Cristo? Não. Ouvindo isso dos meu alunos, me deixa mais confiante de que Deus tem me ‘conduzido pelas veredas da justiça, por amor do seu Santo Nome’.

Por que conhecer um pouco mais sobre o Continente Africano tem que ser do Candomblé?
Interessante é que quando me decidi por Missões Mundiais, nunca me imaginei indo para a África. Já pensei em ir até para o Canadá(cheguei a enviar carta e tudo para a Junta de Missões Mundiais da CBB).

As vezes me “batia umas crises” por nunca ter insistido em viajar para um campo missionário em outro país.
Mas hoje entendo o plano de Deus para minha vida: meu campo missionário é nos “bolsões africanos” existentes no Brasil.

Mais uma vez penso que nós batistas, presbiterianos, assembleianos e de outras denominações, precisamos avançar em nossas pesquisas no que se refere a História da África, a partir da nossa realidade e não sob o pensamento de missionários europeus e norteamericanos do século XIX, que escreveram sobre nossos ancestrais africanos, e que até hoje se prega nos púlpitos sobre uma África demonizada. Isso faz com que nós, negros evangélicos, tenhamos um quase desconhecimento sobre nossa história, nos impossibilitando de avançar nas reflexões sobre questões raciais no Brasil.

Do Blog da Gicélia Negra

12 pensamentos sobre “Professora, a senhora é evangélica e conhece a História da África?!

  1. Querida irma e professora,parabens pela sua forma de pensar . Sonho com uma quantidade de maior de gente pensando como voce! Que o Senhor te de forcas para continuar com seu trabalho,que prefiro chamar de Ministerio . Que a paz do Senhor esteja sempre contigo !

  2. O Brasil recebeu o maior número de escravos, entre os Séc. XVI e XIX. Aqui a “sorte” do negro, contou com o auxílio da lonjura e dos seus Orixás. A distância dá asas à “luxúria” dos súditos de Aviz, isto deixa a cultura do negro se manifestar, evoluir, se mesclar. (2) “Como ninguém dança só”(3), o gingado foi um fator de encontro, e portanto de articulação que ajuda a manter o negro ao menos vivo, até nossos dias.
    Mas verdadeiramente não há preconceito racial no Brasil, o que há é intolerância ao negro.

  3. interessante… enquanto isso a história do Brasil continua sendo este conto de carochinha pra boi dormir… Por isso é que as ruas do Bairro do Ipiranga em Sampa quase todas têm nome de bandidos: Comandante Taylor, Wandenkolk, Lord Cockrane, Greenfel e outros bandidos que posam com heróis na “história” Que ensinam para as crianças. Seria interessante esta professora pesquisar a respeito do Herói genocida da Marinha Brasileira que antes de ir para o inferno se chamava comandante D’Andrea, que assassinou dois terços da população paraense em 1836. Coisa mais esquisita… não ensinam a verdadeira história do Brasil, e ficam ensinando “histórias coitadinhas” de outros povos para nossas crianças.

  4. Sou negro, evangélico e professor de Geografia. Eu gostaria muito de conhecer meus ancestrais africanos, como gostaria. Já até andei pesquisando as minha origens no Brasil, porém depois daí os poucos registros que existem me impossibilitaram de continuar.

  5. Tudo isso signinifica conhecimentos ignorados há muito, que para terem espaços nessa sociedade não bastaram apenas decretos e sim uma verdadeira revolução sócio cultural, dependente de todos, que acreditam e exercem nos caminhos dessa transformação.  

  6. parabéns não a conheço mas “deus” é o único que pode nos julgar continue na sua fé pois quando alguém nos aponta com o dedo esquece que fica p\trás (3) voltado p\nós mesmo!!! a salvação é individual e coração só jesus sabe de cada um do seus filhos dele nada fica escondido não irmã!!! sou católico mas tds somos irmão pela lei de cristo o nosso salvador da terra só quando houver realmente união e paz entre os homens e mulheres,crianças o mundo será mais feliz este é o grande propósito de “deus” ele nos deu de graça amém!!!

  7. Humildimente Parabenizo pela tranquilidade e consciência que tratou o assunto, pois só assim, é possível mudar não apenas a desinformação, mas também, uma estrutura de pensamento equivocado.

  8. É sempre bom lembrar que o Cristianismo(que é diferente do Catolicismo e do Protestantismo) é uma religião de matriz africana. Sim, pois quem nos mostra isso é a própria Bíblia do grego Bíblios=livro, pois era assim que os antigos gregos, chamavam os volumes de papiros=papyos planta abundante no leito do rio Nilo, em que os antigos egípcios(kemet=terra dos negros) faziam suas anotações.

    Os Hebreus antigos, eram africanos. Nenhuma novidade aí, pois que era um povo que se estabeleceu no antigo Kemet, pretos como o ébano, quem nos mostra isso, são os seus descendentes de hoje, os Ibos(Judeus negros da Nigéria) e os hebreus contemporâneos da Etiópia, aliás, a Bíblia nos mostra que Moisés, um outro hebreu negro, casou-se com uma mulher etíope, portanto negra, uma vez que a Etiópia situa-se no nordeste da África e era assim conhecida por muitos povos na antiguidade, os gregos inclusive, toda a região do nordeste africano.

    O profesta Isaías, morreu na África, Abraão, era um caldeu, portanto um negro, pois que nascera na região da antiga Mesopotâmia, atual Iraque, onde eram negros os Elamitas e os Sumérios, que habitavam aquela região e chamavam à si mesmos de ´´cabeças pretas“.

    Os estudos do cientista Cheikh Anta Diop(Físico, Químico, Egiptólogo, Historiador, Sociólogo, Antropólogo e Filósofo) não nos deixam dúvidas quanto à negritude dos povos descritos acima.

    Face ao exposto acima, nada mais natural, que uma professora que se diz seguidora dos ensinamentos do hebreu Jesus de Nazaré, conheça a História da África, afinal, foi para aquele território(Egito) que os pais de Jesus se dirigiram, quando Herodes Ântipas, decretou a matança de todos os bebês nascidos, pois que sabia que entre estes estaria certamente Jesus de Nazaré.

    A Bíblia fala ainda dos povos Kuxitas. Kush ou Cuxe, eram os povos que habitavam o sul do Egito, o atual Sudão, de grande relevância na narrativa Bíblia, e como nos mostra seu território de nascimento, eram todos negros.

    A gênese Iorubá, guarda muitos aspectos parecidos com a gênese Bíblica, pudera, os Iorubas, são provavelmente tributários dos antigos egípcios, quando estes se dispersaram em direção à África Ocidental. E lembro ainda, que Moisés cujo nome significa literalmente ´´retirado das águas“, provavelmente águas do rio Nilo, foi criado na corte do Faraó(Egito) e certamente, lá adquiriu conhecimentos sobre o princípio do mundo.

    A História… é da África e a África ainda está para ser conhecida. Jorge Nascimento.

  9. Pingback: Deus branco, religião africana e meus preconceitos - Blogueiras Negras

  10. Colega de profissão e irmã em Cristo. Belíssima a sua atitude com seus alunos!
    Eles terão a oportunidade de conhecer com você sobre religiosidade, respeito e a deliciosa História da África, nossa ancestralidade!
    Parabéns!

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