Negros falam em Brasília: As políticas e leis para negros e indígenas se tornaram nulas. Ir prás ruas é o único caminho.


Por Reginaldo Bispo.

A Seppir convocou neste fim de semana, dia 06 e 07 de julho, uma reunião, com mais de 50 pessoas, de vários estados, para debater a conjuntura brasileira, para compor um documento orientador para o III Conappir.
negros organizados
Antes de aceitar o convite, consultei cerca de 20 pessoas de vários estados sobre a conveniência de aceitar ou não o convite. Foi unanime a posição de que devêssemos ir e ver do que se tratava.

O tema geral: Democracia e Desenvolvimento sem racismo, por um Brasil Afirmativo. Os subtemas: 1-Elementos centrais da conjuntura; 2-Efeitos das mudanças políticas recentes na sociedade e no estado, do ponto de vista do enfrentamento do racismo; 3-Quais desafios a serem enfrentados?; 4-As estratégias para superação dos desafios, na perspectiva do enfrentamento ao racismo e a Promoção da igualdade racial?

Houve de tudo, de generalização da denuncia do governo, até por alguns petistas, à defesa do governo, passando por reivindicações de demandas especificas. No geral, fizemos uma avaliação da situação do povo negro frente a um pais mobilizado, constando desde posições que manifestam desconfianças nos protagonistas, maioria classe media branca, “convocada pela mídia branca”, até o reconhecimento do feito espetacular, do qual fizemos parte e que devemos ampliar a expressão da nossa presença de maneira identificada.

Surpreendeu-nos as reclamações dos profissionais da Seppir e da Fundação Palmares, quanto ao engessamento burocrático de ambas instituições, por não priorização, do segmento negro, por desinteresse do governo como um todo

Diante das críticas ao governo Dilma e à Seppir, a ministra mostrou-se receptiva, reconhecendo as dificuldades, justificando com a informação das reuniões e ações com setores de mulheres negras, quilombolas, saúde da população negra, o juventude viva, discriminação religiosa, saúde da população negra, apontando porém as dificuldades burocráticas de ordem operacionais, para liberação de verbas e para acompanhamento dessas ações, uma vez que elas são implementadas por outros ministérios.

Há um consenso quanto ao afastamento do governo Dilma das demandas e reivindicações populares e de negras e negros. A aprovação e institucionalização de inúmeros programas como: Titulação Quilombola; Lei 10.639; Zumbi no panteão dos heróis nacionais; Dia da consciência Negra; Cotas raciais, Estatuto da Igualdade e outras, que depois se tornaram políticas nulas, uma vez relegadas ao desprezo por falta de prioridades e verbas para atendê-las. Quase ninguém ousou contestar isso, no máximo, petistas defenderam a importância do avanço da institucionalização das mesmas.

As avaliações e as criticas mostraram no final, que diante das prioridades e escolhas do governo em governar com e para o poder econômico, setores da direita, latifundiários e evangélicos, o governo abandonou as prioridades da maioria do povo. Dilma, achando-se garantida pela popularidade pessoal e de seu governo, contribuiu para as atuais contestações, tornando-se refém da própria armadilha e das escolhas. Colhendo a oposição do povo nas ruas e sem apoio dos amigos capitalistas e no congresso.

Questões como Racismo religioso; Não cassação de concessões de radio e TV, que fazem proselitismo racista e anti povo; Precariedade do sistema prisional; Ausência de uma política de segurança diferente de apenas policia nas ruas; ausência de posição explicita contra a minoridade penal; Falta de Ações objetivas de combate ao genocídio; Abandono de protocolos e práticas na saúde em benefício da população negra; Paralisação da titulação dos territórios quilombolas e indígenas; ausência de interesse e prioridade na implementação da lei 10.639; são indicativas dessas escolhas em beneficio de corporações políticas e do poder econômico, como: Do agronegócio, banqueiros, latifundiários e agronegócio exportador, indústria de turismo, a grande mídia capitalista e evangélicos.

Discutiu-se também, o que seria desenvolvimento para o combate ao racismo e a melhoria de vida da maioria do povo; sobre a natureza do estado que contempla minorias ou as maiorias, de acordo com frase de Nelson Mandela. Ficando demonstrado que Estado de direito; Democracia representativa e desenvolvimento econômico, pode transformar-se em grandes males aos interesses do povo, se eles não conhecem sses conceitos e não têm convicção do que querem. Favorecendo uma elite política capitalista e voraz que explora o patrimônio publico em beneficio próprio, ao invés de pra maioria do povo.

Há confusão e pouco conhecimento do que seja, e sobre qual a origem da atual correlação de forças. A negação (implícita de alguns), da responsabilidade dos próprios governos do PT, tentando justificar as alianças como inevitáveis. Por não conhecer a história, ou por não compreender conceitos e aspectos fundamentais da política, o que indica imaturidade e falta de compreensão estratégica. De todo modo, a maioria parece ter compreendido que para avançar é preciso ir pra rua e demonstrar as insatisfações e demandas, fortalecendo os atuais protestos, é o único caminho para a população negra.

A maioria se opõe ao capitalismo e ao fascismo, que faz com que as representações, independente de partidos, se reivindiquem de esquerda. O Problema é o que se faz dessa condição ideológica, e como atuar a partir dessa posição.

Foi eleita uma comissão com 07 pessoas, de entidades das cinco regiões do país, para revisarem e chancelar o documento, que a Seppir deve remeter-lhes nos próximos dias. O Resultado das discussões comporão as orientações para a discussão nos Conappir Estaduais.

Finalmente, em uma reunião das entidades locais e nacionais, mais atuantes, decidiram enumerar uma pauta emergencial, baseada em questões como:

Violência e descaso da política carcerária;

O fim dos autos de resistência;

A titulação das terras quilombolas;

O racismo religioso;

A política de comunicação do governo e  as concessões publicas de TV e Rdio, para igrejas e políticos racistas;

A política de saúde para a população negra, reivindicando uma audiência com Dilma e os seus principais ministros, exigindo cumprimento de compromissos e a solução destas questões.

Como podem ver, a maioria das discussões, coincidência ou não, passam de alguma maneira pelos 18 pontos de demanda que o Manifesto de Negros e Negras Organizados Lutando por seus Direitos trata, demonstrando que o manifesto os sensibilizou, ou que há um consenso natural, e portanto um acerto do manifesto quanto as necessidades históricas e prementes para nosso povo.
Reginaldo Bispo – participante da compilação do manifesto resultante do acúmulo de debates dos negros nas útimas décadas,  presnete na reunião das entidades e lideranças Negras com a Seppir neste fim de semana, 6 e 7 de junho de 2013.

6 pensamentos sobre “Negros falam em Brasília: As políticas e leis para negros e indígenas se tornaram nulas. Ir prás ruas é o único caminho.

  1. Impressionada com a presença de uma pessoa que detonou a política de cotas: Reginaldo Bispo… E o pior, em debates da famosa mídia racista.
    É demais!!!!!!!!!!!!!!!!!

    • Como a emissão de artigos assinados não são de nossa responsabilidade, encaminhamos ao autor do artigo, Reginaldo Bispo ao comentário de Rosália Lemos. Nós mesmos da Mamapress estamos interessado na resposta.

  2. Prezado Bispo,
    a nossa Ministra levará esta pauta de reivindicações à Dilma ou esse grupo terá a oportunidade de estar presente nessa reunião? Tive notícias de que a Dilma não recebe nossa Ministra. Essa reunião com a Dilma poderá ser gravada e mostrada aos negros que não foram consultados? Eu perguntei por diversas vezes à SEPPIR sobre a divulgação dos nomes de seus delegados e nunca obtive resposta. Se é um órgão dirigido ao povo negro deveria respeitá-lo e informá-lo quando consultado. Isso ainda não acontece. Se eu soubesse previamente dessa reunião da última semana teria pedido uma resposta através de vocês.
    Grata.

  3. Pingback: Negros falam em Brasília: As políticas e leis para negros e indígenas se tornaram nulas. Ir prás ruas é o único caminho. | Africas

  4. Tem hora que eu não sei quem é mais burro, que está no governo e não entende nada de movimento social, ou quem já passou pelo movimento social e não constroiu nada e acha que pode falar pelo movimento social, coitados do mn e dos indigenas, pois o que tem de oportunista na nossa causa, usando nosso nome para se encontrar com a Dilma, na SEPPIR nem falo, que convida até difundo para falar de nós. Quero ver na hora que vamos na rua dizer que não nos representam, se a Dilma vai gostar

Deixe um comentário