A antropologia foi um grande instrumento da colonização. Afirma o antropôlogo angolano, biógrafo de Amilcar Cabral, António Tomás


Por John Mattos

Edição Marcos Romão

Nesta Entrevista, António Tomás, antropôlogo e Biógrafo de Amílcar Cabral, autor do livro “O Fazedor de Utopias – Uma Biografia de Amílcar Cabral”.

O angolano António Tomás, doutorado em Antropologia Política pela Universidade americana de Colômbia é Professor na Universidade Makerere de Uganda esteve em Paris, como Professor convidado da prestigiada Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, fala da sua carreira, da intelectualidade africana, de Universidades africanas e da Obra do revolucionário, Amílcar Cabral.

Perguntado sobre porque os estudantes africanos não querem estudar antropologia, o antropôlogo* angolano, Antonio Tomas, responde:

Há duas coisas importantes na antropologia, uma das coisas é a tradição antropológica, e neste ponto os estudantes têm completamente razão.

A antropologia foi um dos grandes braços do colonialismo, portanto a antropologia prestou grandes serviços ao colonialismo, qualquer pessoa que estude antropologia, claro, tem que se confrontar com esta grande tradição da antropologia e, a forma como a antropologia foi usada como instrumento de dominação, ou de como se poderia conhecer melhor os africanos e dominá-los de forma mais eficiente.

Mas há uma outra parte da antropologia que mais me interessa, tem a ver com as ferramentas que a antropologia oferece. Há o trabalho de campo, há os métodos de observação, estas são as partes da antropologia, que eu acho que se pode ensinar em África.

A antropologia foi a primeira ciência social a prestar uma grande atenção, às formas e aos comportamentos humanos em longos períodos de observação.

*grafia em português de Portugal

António TomásAntónio Tomás
Nasceu em Luanda, em 1973. É jornalista e antropólogo e colabora frequentemente em vários órgãos da imprensa angolana, como o Jornal de Angola e o Angolense.
Começou a sua carreira de jornalista na Rádio Nacional de Angola, em 1991, e naAgência Angola Press, em 1992. Mais tarde, a residir em Lisboa, escreveu para vários periódicos, entre os quais o jornal Público, onde assinou recensões críticas sobre literatura africana.
Membro fundador do Grupo de Teatro Museu do Pau Preto, foi autor e co-autor de peças representadas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente Museu do Pau Preto e Cabral.
Actualmente, divide as suas tarefas profissionais entre Luanda, Lisboa e Nova Iorque, onde se encontra desde 2004 a fazer um doutoramento em antropologia na Universidade de Columbia, sob o tema: «Os efeitos da dolarização no nível de vida das populações em Angola».
A obra O Fazedor de Utopias – uma biografia de Amílcar Cabral foi publicada em Cabo Verde pela Editora Spleen.