Denegrir não é ofensa Queremos denegrir esta peça: “João Alabá e a Pequena África”


por Marcos Romão

Diretor, Produtora, Damião(representante Quilombo Pedra do Sal)

Diretor, Produtora, Damião(representante Quilombo Pedra do Sal)

A peça “João Alabá e a Pequena África”
causa polêmica antes de começar.
Com encenação programada na Pedra do Sal,
na região do atual Porto Maravilha, que recebeu
durante 3 séculos, 2 milhões de negros escravizados.
Que com Tia Ciata é o “Berço do Samba”
A produção da peça traz para a Pequena África:
Uma Yalorixá de pele branca.

Em um momento em que a sociedade brasileira vive um clima de intolerância contra as religiões de matrizes africanas e terreiros são invadidos, crianças do Candomblé são impedidas de entrar em escolas e agredidas à pedradas  quando estão paramentadas nas ruas. A publicação da foto de uma atriz branca para representar uma Yalorixá, causou grande revolta entre os moradores da antiga Pequena África, região central do porto do Rio, Yalorixás e seguidores do Candomblé, assim como junto a organizações do Movimento Negro.
Informado através das redes sociais, sobre a indignação provocada, o diretor da peça, pediu uma reunião com as representações da comunidade, do Candomblé e do Movimento Negro.

Reunião no Instituto Pretos Novos

Reunião no Instituto Pretos Novos

Em reunião no dia 16.06.205 no Instituto Pretos Novos, os moradores da região da antiga Pequena África, representantes do Movimento Negro e representantes do Candomblé, além de produtores e artistas negros e negras, que ouviram as explicações da produção da peça.

Nas palavras representadas pela fala da socióloga e adepta do Candomblé, Alessandra Nzinga, ” Estamos aqui para denegrir, que significa enegrecer a peça”, foi ressaltado o pensamento das lideranças presentes, que afirmaram  que não estavam ali para censurar ninguém e sim para apresentarem propostas à direção do espetáculo, para dirimir a celeuma e indignação causada pela publicação da foto de uma atriz branca, paramentada exoticamente de Yalorixá, que iria representar o papel principal na peça dedicada a louvar as tradições culturais negras da região:

Retratação pública da propagação e exposição de foto e caracterização ofensiva das Religiões de Matrizes Africanas, que possam ser interpretadas como racismo.
Substituição da atriz branca por uma atriz negra.
Ou suspensão da apresentação para que seja reavaliada.
Foi solicitada à produção uma resposta até o dia 17 no final da noite.

O Quilombo da Pedra do Sal, representado por Maurício Hora e Damião Braga entrou com uma pedido de ação e avaliação se houve  RACISMO por parte da produção do espetáculo, junto a Coordenadoria de Igualdade Racial (CEPPIR), que estava representada pela presidente Lelette Couto.

Quilombolas denunciam a exclusão dos negros da Pedra do Sal e do Porto Maravilha


Pedra do Sal fot internet

Pedra do Sal
fot internet

Já denunciamos e reiteramos denuncia de ações que acontecem na Região Portuária sobre o assunto da Herança Africana e somos tratados a revelia, sem peso, apesar de diversas vezes ter posto a cara nos eventos para se fazer representado, mesmo sem convite e privilégios, presenciando outros membros públicos dos órgãos que discutem memória, eminentes atores sociais e históricos de graduação e importância dessa discussão, sendo individualizadamente convidados.
Nosso sentimento é de entender assim, quando não somos informados desses atos simbólicos de forma oficial e com a mesma forma de convite. Continuamos excluídos? Setores da Prefeitura, institucionalmente, num passado muito recente, nos ignoraram e ainda provam que nos ignoram, tendo por competência de suas ações a condução de nossa região em ícone e Patrimônio da Humanidade no conceito da Herança Africana, que mais do que ninguém, a flor da pele, discutimos quando nem se falava nisto.
Essa discórdia, a Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas, falando em nome do Quilombo Pedra do Sal, seu afiliado, chegou a relatar pessoalmente e abertamente ao Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro e seu vice-Prefeito, sobre esse estigma perverso, mas fomos “convencidos” de que o detentor da pasta era um “doce”, palavras do Prefeito Eduardo Paes.
Esperamos que ele não seja realmente um racista conduzindo tão importante discussão para nosso povo afrodescendente e de nossa memória. Que o cerimonial cumpra o papel de informar e dar destaque aos quilombolas que hoje não podem ser vistos como seres invisíveis no universo da discussão do gênero em nossa Cidade. Começamos e provocamos, há pelo menos duas décadas, alguns confrontos e discussões, em que os resultados institucionais nos fortaleceram para com nossos irmãos quilombolas de outras partes do Brasil e em nossa cidade não podemos ver a prática de que outros sempre digam sobre a memória de nossa etnia o que nós também queremos dizer sobre nossas perspectivas. Sem mais